8.11.12

Sobre "O Alienista" (2)



       "O Alienista" é um espanto. O feitio objetivo do entrecho, o tempo lento da narração, a contenção da ironia sem malabarismos inúteis, a serenidade superior, a graça irresistível mas apagada e modesta tudo concorre para dar ao leitor, por contraste, uma impressão de espantosa vertigem. Caminhamos sobre um fio de linha muito frágil, estecado entre dois abismos, e o nosso equilíbrio é um acaso resultante da vaga neutralização de duas loucuras que se entrechocam. Equilíbrio? Não se pode mais falar em equilíbrio, entramos nos reino do delírio sistemático, da "lógica do absurdo" a que se refere Tertuliano.

[Meyer, Augusto. Machado de Assis (1935-1958). Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, pp. 44-5]

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