24.7.13

Modelo de questões: sobre Caetés, de Graciliano Ramos


1. Leia atentamente o trecho abaixo e faça o que se pede.

          Várias vezes peguei a Bíblia para tirar dinheiro, e o livro sempre se abriu no Eclesiastes, mostrando-me a frase de Salomão enjoado. Repetindo-a, senti uma atroz amargura. Uvas verdes. Que me importava salomão?
         Num sombrio acesso de desespero, pensei no suicídio. Tolice. Eu tenho lá coragem de suicidar-me? O que fiz foi passar uns dias quase sem comer. A escrituração ficou atrasada uma semana, o que me valeu duas observações de Vitorino, e abandonei o jornal de Padre Atanásio e os caetés.
           Para que mexer nos caetés, uma horda de brutos que outros brutos varreram há séculos?
Só Luísa me preocupava. Desejei-a dois meses com uma intensidade que hoje me espanta. Um desejo violento, livre de todos os véus com que a princípio tentei encobri-lo. Amei-a com raiva e pressa, despi-me de impulsos que me importunavam, sonhei, como um doente, cenas lúbricas de arrepiar. Quando ia à casa dela, mostrava-me taciturno e esquivo. Vinha-me às vezes uma espécie de delíquio, parecia-me que o coração deixava de pulsar, e era um frio, uma angústia, sensação de vácuo imenso. Estava sempre a sobressaltar-me, como se em redor me lessem na alma. Transparecia nos meus modos uma irritação que procurei conter debalde; se alguém me interrogava, respondia com palavras secas e breves.
           E quanto disparate! Uma noite cumprimentei deste modo o Reverendo, que chegava: “Adeus, Padre Atanásio. Divirta-se.”
           Riram em torno, gaguejei explicações parvas e encolhi-me, rangi os dentes, sentindo a vaga tentação de estrangular o Dr. Castro, que sorria para Clementina.

(RAMOS, Graciliano. Caetés. 18a ed. Rio de Janeiro: Record, 1982, p. 139-140.)


a) O enredo do primeiro romance de Graciliano Ramos, Caetés, é construído em dois planos, com o drama contemporâneo superposto ao drama histórico dos caetés. Exponha em resumo os traços característicos de cada um deles, assim como a relação entre um e outro, indicando a distância que este romance mantém do chamado surto nordestino de 1930 na literatura brasileira.

b) Em estudo sobre Caetés, Antonio Candido indica presença nele das “melhores receitas da ficção realista tradicional”, assim como da “técnica do devaneio”. Procure explicar a presença destes elementos, apontando diferenças fundamentais da literatura experimentalista que caracterizou os anos 1920 na literatura brasileira.

Literatura Brasileira III: modelo de questão para 2a. AP

Segue abaixo as questões modelo para a última avaliação de Literatura Brasileira III. Os aspectos a serem cobrados serão os mesmos que aqui aparecem. O questionário pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: http://www.4shared.com/office/bjkVEOMp/2aAP_LitBrasIII_20131.html

23.7.13

Ensaio sobre O País do Carnaval, de Jorge Amado

Pessoal, segue abaixo o endereço que leva ao arquivo eletrônico do ensaio sobre O país do carnaval, de Jorge Amado. O texto, intitulado "O país do carnaval: um retrato do Brasil em branco e preto", foi apresentado no XIII Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), que aconteceu na Universidade Estadual de Campina Grande. O tema deste XIII Congresso da ABRALIC foi "A internacionalização do regional", com o qual o texto procura dialogar. Aguardo críticas e comentários.

http://www.4shared.com/file/v_UKuZg9/RETRATO_Abralic_2013.html

19.7.13

Sobre Abelardo, de O Rei da Vela, e a paródia



"[...] A esse industrial e agiota Oswald deu o nome de Abelardo, para enriquecê-lo com a conotação do famoso amante do século XIII, um dos símbolos do amor desesperado e romântico, vítima da sociedade, ao tentar quebrar-lhes as barreiras, no amor de Heloísa. Se há Abelardo, é claro que Heloísa deve estar a seu lado, como na história. Só que o século XX não admitiria efusões românticas e Oswald faz a paródia do amor puro e perfeito. [...]"
(Magaldi, Sábato. Teatro da Ruptura: Oswald de Andrade. SP: Global, 2004, p. 66-7)

18.7.13

Referência sobre o teatro no Brasil




Para quem deseja ter uma visão panorâmica de "temas, formas e conceitos" que interessam ao estudo do teatro brasileiro, ou mesmo aprofundar aspectos específicos, o Dicionário do Teatro Brasileiro, organizado por J. Guinsburg, João Roberto Faria e Mariangela A. de Lima é referência preciosa. Verbetes como "Realista (comédia)" são fundamentais para a compreensão aprofundada das trajetórias da dramaturgia brasileira no século XIX, assim como os desdobramentos que marcarão o século seguinte. Para os interessados, vai a dica: há vários exemplares novinhos, para consulta local, no térreo da Biblioteca do Centro de Humanidades da UFC (biblioteca das Casas de Cultura Estrangeira). Boa pesquisa.

16.7.13

Questões sobre O Rei da Vela, de Oswald de Andrade

Tópicos de Literatura Brasileira
o texto e a cena teatral na literatura brasileira

Questões sobre O Rei da Vela, de Oswald de Andrade

1. Entre os aspectos modernistas que caracterizam o texto de O Rei da Vela, podemos  apontar a utilização da paródia e da metalinguagem. Indique aos menos um exemplo de cada um desses aspectos, explicando o caráter crítico de cada um deles.

2. Comente os dois cenários que são descritos ao longos dos três atos de O Rei da Vela, contrapondo-os a cenários descritos em O Noviço, de Martins Pena, e Verso e Reverso, de José de Alencar.

3. Compare o projeto da comédia realista no Brasil, que pode ser sintetizada na famosa expressão de José de Alencar, "fazer rir sem fazer corar", com a "espinafração" de O Rei da Vela. Exemplifique com trechos das peças.


obs: as respostas devem ser concisas, não ultrapassando o limite máximo de uma lauda para cada
uma delas; as respostas devem ser originais.

6.7.13

revista substânsia




respeitável público:
já está no ar o número inaugural da revista substânsia,
http://www.revistasubstansia.com.br/

na qual tenho a satisfação de figurar
com ensaio sobre O país do carnaval,
de Jorge Amado;
e tem muito mais, vale conferir!

5.7.13

Atividade suplementar de Literatura Brasileira III

Literatura Brasileira III
Regionalismo nordestino e Modernismo paulista

Prof. Marcelo Magalhães

  1. A partir da leitura dos textos abaixo, faça o que se pede:
A verdade é que não há região no Brasil que exceda o Nordeste em riqueza de tradições ilustres e em nitidez de caráter. Vários dos seus valores regionais tornaram-se nacionais depois de impostos aos outros brasileiros menos pela superioridade econômica que o açúcar deu ao Nordeste durante mais de um século do que pela sedução moral e pela fascinação estética dos mesmos valores. [...] Como se explicaria, então, que nós, filhos de região tão criadora, é que fôssemos agora abandonar as fontes ou as raízes de valores e condições de que o Brasil inteiro se orgulha ou de que vem se beneficiando como de valores basicamente nacionais?
(Freyre, Gilberto. “Manifesto Regionalista de 1926”)

Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupy, or not tupy that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos trancafiados, pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
(Andrade, Oswald de. “Manifesto Antropófago”)

  1. Segundo J.M. Gomes de Almeida, o confronto entre os momentos literários do modernismo paulista e do regionalismo nordestino evidencia dois aspectos: o que se vincula ao contraste entre tradicionalismo e “futurismo”; e a caracterização predominantemente estética de um diante do cunho mais cultural (sociológico) do outro. Caracterize os momentos literários referidos e os contextualize na situação socioeconômica que os conforma. Cite ao menos uma obra de cada momento para ilustrar sua resposta.

  1. A partir dos trechos apresentados e das considerações do item anterior, caracterize sucintamente País do Carnaval ou Caetés.