25.4.13

Sobre o Penumbrismo no Ceará

Falávamos há pouco sobre a caracterização da poesia penumbrista, do surgimento do rótulo em artigo de Ronald de Carvalho sobre o livro O Jardim das Confidências (1921), de autoria de Ribeiro Couto (1898-1963). Logo depois dessa conversa, abri como que procurando recreio o livro Variações em Tom Menor (1984), do escritor cearense Edigar de Alencar, que participou tanto das manifestações modernistas quanto do momento imediatamente anterior, de preparação do terreno cultural cearense. O livro oscila entre o memorialismo e o registro histórico, e nele fui buscar o artigo que me fisgava pelo título: "O alvorecer do modernismo no Ceará". Qual não foi minha surpresa ao encontrar as seguintes considerações, fundamentais para a caracterização do penumbrismo realizada na postagem anterior:

"[...] Logo depois [do surgimento do livro Coroa de Rosas e Espinhos, de Mário da Silveira, em 1921] apareceria em Fortaleza o livro de estréia de Ribeiro Couto O Jardim das Confidências, despertando o entusiasmo de alguns e a crítica mordaz de outros. Nomes destacados se não investiam contra o poeta também não o elogiavam, enquanto outros buscavam ridicularizar a poesia chamada penumbrista, compondo imitações nas quais o traço sentimental e lírico era substituído pelo paródico, pelo humorismo por vezes achincalhante. Entretanto, o penumbrismo encontrava eco nas camadas mais jovens, entre poetas e intelectuais do segundo time, a que pertencíamos Jáder de Carvalho, eu e outros poucos. E não somente nos círculos literários e jornalísticos, mas no seio de associações e grêmios e principalmente no meio de estudantes e comerciários, estes últimos constituindo uma classe letrada, participante, bem atenta aos movimentos de arte e cultura do Estado.
     No Café Riche, onde nos amesendávamos durante os minutos de sobra do almoço, discutíamos e recitávamos Ribeiro Couto. Embora se tratasse de livro muito paulista e muitos de nós não soubéssemos nem o que havia de diferente entre o nosso chuvisco e a garoa tão mencionada em suas páginas, o fato é que, por uma espécie de fadiga solar, nós, os da terra luminosa de sol candente, encontrávamos na doce penumbra da poesoa de Ribeiro Couto suave e repousante aconchego. Estávamos cansados dos parnasianos brilhantes e bem arrumados, dos versos esculturais e lentejoulantes, de poesia eloqüente, cheia de estardalhaço, de cores e de luzes. [...]"

(Alencar, Edigar de. Variações em Tom Menor : letras cearenses. Estudo introdutório de Sânzio de Azevedo. Fortaleza: UFC, 1984,
pp. 30-31)

E assim continua o escritor e poeta Edigar de Alencar, em uma linguagem fluente, simpática e evocativa. Adiante Edigar diz acreditar ter "sido no Ceará o versejador mais fortemente influenciado pela poética de Ribeiro Couto", além de comentar algumas das reações de prestigiados escritores cearenses contra o penumbrismo, como é o caso de Antônio Sales. Vale, portanto, a leitura destas páginas de memórias, que dão vida e cor ao registro histórico do período.

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