21.4.13

José Albano por Tristão de Athayde

Conciliei-me com o velho crítico católico. O conhecimento que recentemente obtive da trajetória intelectual de Tristão de Athayde, que findaria como ele próprio anotou com certa postura de juventude, com posicionamentos mais progressistas e menos conservadores que os de sua mocidade, marcada pelo pensamento católico de direita, fez-me rever minha antipatia por sua presença, espécie de herança da avaliação que dele fizeram alguns modernistas. Com o golpe militar de 1964 e os terrores da ditadura então iniciados, Tristão se mostraria um combatente incansável contra a longa e tenebrosa noite que duraria vinte anos. Era uma radical autocrítica que Tristão realizava, dando-nos conclusivo motivo para que admiremos seu longo percurso intelectual.
Segue trecho do artigo "Poesia redentora", no qual trata da poesia de caráter espiritualista de três poetas: Alphonsus de Guimaraens, José Albano e Durval de Morais. O trecho recortado discorre sobre José Albano, trecho aliás que é citado por Alfredo Bosi em seu livro sobre o Pré-Modernismo (O Pré-Modernismo, 1966, p. 23). O artigo completo encontra-se disponível no sítio da Academia Cearense de Letras.
Eis o que nos diz Tristão sobre o poeta cearense:

     "A figura de José Albano é das mais inconfundíveis desse período pré-modernista, entre 1900 e 1920, em que escreveu o principal de sua estranha e puríssima obra poética, agora de novo revelada ao grande público, pela coragem editorial dos Irmãos Pongetti e pela independência e bom gosto literário de Manuel Bandeira. As Rimas (...) -- compreendendo essa deliciosa Comédia Angélica, esses maravilhosos quatro sonetos em inglês, o Triunfo, que é uma obra-prima e os Dez Sonetos Escolhidos pelo Autor, que são seguramente dos mais belos que jamais foram escritos em nossa língua e mesmo em qualquer língua humana -- representam um imenso drama interior, uma incomparável realização de poesia pura. José Albano viveu fora do seu tempo, viveu contra o seu tempo, viveu torturado pelo seu tempo, nessa peregrinação pela Europa, à busca de um mundo ideal que só a chave poética de Camões, o grande desgraçado de gênio, pode abrir. E criou uma poesia intemporal, inespacial, realmente eterna em sua pureza intangível, em que o verdadeiro clássico, não o neo-clássico, se perpetua em sua perenidade. Há um clássico eterno. Como há um romântico eterno. Em geral não se entendem. Mas eu confesso que não consigo excluí-los. E creio que viverão lado a lado eternamente."

FONTE: http://www.ceara.pro.br/acl/revistas/revistas/1982/ACL_1982_03_Poesia_Redentora_Tristao_de_Atahyde.pdf

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