26.4.13

Ribeiro Couto, enfim: poesia da penumbra

Chuva


A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora...
E a chuva fina continua, fina e fria,
Continua a cair pela tarde, lá fora.


Da saleta fechada em que estamos os dois,
Vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
A chuva fina continua, fina e lenta...
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
se um de nós vai falar e recua depois.


Dentro de nós existe uma tarde mais fria...


Ah! Para que falar? Como é suave, branda,
O tormento de adivinhar — quem o faria? —
As palavras que estão dentro de nós chorando...


Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
Estão lá fora no jardim se desfolhando.


Chove dentro de nós... Chove melancolia...

(Ribeiro Couto)

2 comentários:

Fábio Limaverde disse...

Da segunda estrofe em diante, lembra muito F. Pessoa.

Unknown disse...

Professor, lendo essas poesias penumbristas, não tem como não lembrar esses jovens e suas atitudes "emo" de hoje em dia.
Tô certo? :)