27.5.12

o valor poético da piada

A visualidade, a síntese e o humor foram forças fundamentais na programação do modernismo iniciado em São Paulo. O poema-piada foi uma armas empunhadas por essas forças, e com ela pretendeu-se combater um dos males que pretensamente nos condenavam à estagnação, mal identificado por Paulo Prado (no prefácio a Pau-Brasil, de 1924) -- "o mal da eloquência balofa e roçagante". Oswald de Andrade foi o poeta da "fase heroica" que mais se utilizou dessas armas, Mário de Andrade parece nunca ter a ela se afeiçoado, e Manuel Bandeira brincava ocasionalmente com ela. No seu Itinerário de Pasárgada (1957), refletiria sobre seu uso sistemático e também sobre a sisudez que alguns consideravam requisito de poesia: 

"Por essas e outras brincadeiras estamos agora pagando caro, porque o 'espírito de piada', o 'poema-piada' são tidos hoje por característica precípua do modernismo, como se toda a obra de Murilo [Mendes], de Mário de Andrade e outros, eu inclusive, não passasse de um chorrilho de piadas. Houve um poeta na geração de 22 que se exprimiu quase que exclusivamente pela piada: Oswald de Andrade. Mas isso nele não era 'modernismo': era, e continua sendo, o seu modo peculiar de expressão. [...] Mas quem negará a carga de poesia que há nas piadas de Pau Brasil? E por que essa condenação da piada, como se a vida só fosse feita de momentos graves ou se só nestes houvesse teor poético?" (Bandeira, Manuel. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 94-5)

Nenhum comentário: