14.5.12

Cruz e Sousa, simbolismo, romantismo, expressionismo

Tratada como um signo, a vida de Cruz e Sousa é debuxada com o auxílio da evocação de seus versos por Paulo Leminski em Cruz e Sousa: o negro branco (São Paulo: Brasiliense, 1983). O poeta catarinense que inaugurou o simbolismo no Brasil nos aparece afinal como "nosso mais fundo e intenso poeta" (p. 10). No capítulo 8, "Linguagem em ereção: o sexo da poesia de Cruz e Sousa", Leminski considera a feição expressionista da musa do autor de Broquéis (1893) no trscho que segue:



     "De que sexo era a poesia de Cruz e Sousa? Priápica, ninfomaníaca, a musa de Cruz era, provavelmente, lésbica, com furor uterino: uma musa, é claro, expressionista.
      [...] sabemos que o simbolismo é, apenas, uma das modulações possíveis do romantismo. Uma modulação extrema: são os românticos mais radicais (Poe, Nerval, Novalis) os primeiros simbolistas, os primatas de símbolo. O elo perdido.
      A categoria estética (o 'rema', diria Peirce) 'Expressionismo' não existe na histórias das formas literárias, no Brasil. Embora se tenha invocado a categorias de 'Impressionismo' para caracterizar a arte de Raul Pompéia, em O Ateneu.
      'Expressionismo' é rema corrente, na história da pintura, na passagem do século XIX para o vinte (...). A palavra se aplica, ainda, a certo tipo de música (...).
      O Expressionismo, cujas obras traduzem uma sensação de medo, parece expressar as perplexidades de uma classe social à beira de convulsões revolucionárias (...).
      Na literatura alemã e centro-européia da mesma época, Expressionismo é a realidade, traduzida em obras como as de um Kafka, de um Trakl, um Gottfried Benn, um August Stramm. Ver traços no primeiro Brecht. Afinal, que é Expressionismo?
      Vamos ficar com algumas definições. Como a de Albert Soergel.
      Conforme ele, com o expressionismo 'o que foi expressão a partir de fora, se muda em expressão a partir de dentro: aquilo que foi reprodução de um pedaço do natural é, agora, liberação de uma tensão espiritual. Para isso, todos os objetos do mundo exterior podem ser unicamente signos sem significado próprio. Dissolução pessoal do objeto na idéia, para desprender-se dele e redimir-se nela'.

[Leminski, Paulo. Cruz e Sousa: o negro branco. São Paulo: Brasiliense, 1983, p. 45-6]

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