26.5.12

Bandeira e o "lirismo dos loucos"


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          Talvez Manuel Bandeira fale do “lirismo dos loucos”, do “lirismo dos bêbados/ o difícil e pungente lirismo dos bêbados”, movido pela necessidade de dar nome às palavras dos homens, mas, reconhecendo que vivemos em um período de crise, de uma cisão social e psíquica exasperada, ao dar nome às palavras e aos sofrimentos dos homens, entrega-nos, em custódia, o nome e a identidade de seres igualmente feridos. Esta identificação do poeta a seres marginais, a seres feridos, a seres mínimos, dá-nos a medida da pungência e da compaixão característica de sua poesia. [...] A experiência da palavra, que encontra a sua síntese mais alta na poesia, é emoção. É apenas porque o lirismo propõe-se como projeto conservar plena e íntegra recordação da experiência individual e social, que o poeta pode integrar a experiência de seres que vivem à margem e trazê-los, com a força compassiva de sua emoção e de seu canto, para junto de nós.
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[Koshiyama, Jorge. “O lirismo em si mesmo: leitura de ‘Poética’ de Manuel Bandeira. In: Bosi, Alfredo (Org.).
Leitura de poesia. São Paulo: Ática, 1996, p. 92]

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