30.5.12

Arlequinal de Mário em Machado

No famoso capítulo VII de Memórias Póstumas de Brás Cubas, "O delírio", Machado de Assis faz figurar "as formas várias de um mal" com "vestes de arlequim". O trecho pode ser interessante para a discussão do "Arlequinal" em Mário de Andrade. Segue um recorte do capítulo:


Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura – nada menos que a quimera da felicidade – ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.

[Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Capítulo VII: “O delírio”; ilustra esta postagem "Arlequim" (1918), de Pablo Picasso]

3 comentários:

Jonatan Floriano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Stefanie disse...

O maior (e melhor) escritor brasileiro... sem sombra de dúvidas... Machado de Assis é atemporal... realista? romântico? Ele não cabe em rótulos... Ele deu um novo formato à literatura brasileira!

Anônimo disse...

Também imaginei que vc estivesse brincando. mas eu vi a sua n.......FIM.