7.5.13

"Cabocla", de Jáder de Carvalho, e a pintura modernista

O poema é "Cabocla", de Jáder de Carvalho, publicado originalmente no livro inaugural do modernismo cearense, O canto novo da raça (1927). O poema é emblemático, pois desenvolve aspectos característicos da poesia de Jáder, como é o caso do forte sabor telúrico. É Jáder de Carvalho "de longe o poeta mais telúrico dos autores d'O canto novo da raça", como afirma Sânzio de Azevedo em seu estudo O modernismo na poesia cearense (p. 24). Além desse telurismo do poeta, o poema exalta "O homem novo do Norte, / contemporâneo" e refere-se "à voz do dínamo", como marca de seu tempo.
Mas interessa aqui relacionar alguns versos deste poema a imagens importantes das artes plásticas do modernismo em âmbito nacional. Primeiramente, a imagem da cabocla, do samba e da viola, que aparecem na segunda estrofe do poema:




No teu olhar, apenas vive a lembrança fatal
de anônimas tragédias e prélios de paixão...
Não buscas mais, com o mesmo ardor, a viola e o samba...
O samba – em que tu foste a Tentação!
A viola – que é feita dos teus suspiros e das tuas queixas!


Di Cavalcanti foi talvez o artista que melhor representou a figura feminina na perspectiva modernista, em que sensualidade, mestiçagem e ambientação cultural figuram de modo afirmativo, numa espécie de retrato afetivo das manifestações nacionais populares e festivas. Reparem na imagem abaixo, reprodução do quadro à óleo Samba, de 1925:


A imagem acima é rica em aspectos formadores de nossa cultura, aspectos que só depois das revoltas modernistas passaram a entrar com mais frequência na produção artística brasileira.
O segundo trecho do poema que podemos relacionar com a produção pictórica característica do modernismo é o seguinte:



Ele trará, nas veias, outro sangue mais frio...
Detendo os rios nos seus cursos,
num amplexo de argamassa e pedra unirá as montanhas!
Ah, a legião ululante das águas
a esbater-se no peito ciclópico das barragens!
 
Os versos evocam mais uma vez o nascimento do "homem novo", proveniente da "Fecundidade" da cabocla cantada. E é este "homem novo" que irá construir uma nova nação, que espera de seus filhos a força para mudar-lhe a paisagem e fazer com que sua grandiosa natureza testemunhe a construção de um país. A representação desse desenvolvimento nacional, que exigia monumental empenho para a construção de cidades e estradas, transporte e telecomunicação, figurou também entre as imagens característica do modernismo brasileiro, como é o caso dos painéis de Cândido Portinari Construção de Rodovia, de 1936, reproduzidos abaixo:



Vale lembrar que Portinari retratou também situações típicas das condições climáticas do Nordeste brasileiro, o que logicamente aparece nos versos do modernismo cearense. Aliás, o romance regionalista de 1930 desenvolveria com recorrência a temática das secas, tema central de uma série de quadros de Portinari, entre os quais alguns dos mais conhecidos de sua paleta, como é o caso de Os retirantes e Criança Morta, ambos de 1940, reproduzidos abaixo:




Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente!