17.1.13

AP2 de Literatura Brasileira 3




Universidade Federal do Ceará
Centro de HumanidadesCurso de LetrasDepartamento de Literatura
Literatura Brasileira IIIProfessor: Marcelo Magalhães2ª AP



1.      Leia e analise o texto abaixo, procurando identificar nele traços característicos da poética de seu autor e também caracteres específicos de Pauliceia Desvairada (1922). As tendências da poesia moderna apresentados por Mário de Andrade no “Prefácio Interessantíssimo” e n’A Escrava que não é Isaura (1924) devem ser relacionadas em sua análise.

Noturno

Luzes do Cambuci pelas noites de crime. . .
Calor! ... E as nuvens baixas muito grossas,
feitas de corpos de mariposas,
rumorejando na epiderme das árvores. . .

Gingam os bondes como um fogo de artifício,
sapateando nos trilhos,
cuspindo um orifício na treva cor de cal. . .

Num perfume de heliotrópios e de poças
gira uma flor-do-mal. . . Veio do Turquestão;
e traz olheiras que escurecem almas. . .
Fundiu esterlinas entre as unhas roxas
nos oscilantes de Ribeirão Preto. . .

— Batat’assat’ô furnn! . . .

Luzes do Cambuci pelas noites de crime! . . .
Calor. . . E as nuvens baixas muito grossas,
feitas de corpos de mariposas,
rumorejando na epiderme das árvores. . .

Um mulato cor de oiro,
com uma cabeleira feita de alianças polidas. . .
Violão! "Quando eu morrer. . .” Um cheiro
[pesado de baunilhas
oscila, tomba e rola no chão. . .
Ondula no ar a nostalgia das Baías. . .

E os bondes passam como um fogo de artifício,
sapateando nos trilhos,
ferindo um orifício na treva cor de cal. . .

— Batat’assat’ô furnn! . . .

[...]
               
Balcões na cautela latejante, onde florem
[Iracemas
para os encontros dos guerreiros brancos. . .
[Brancos?
E que os cães latam nos jardins!
Ninguém, ninguém, ninguém se importa!
 Todos embarcam na Alameda dos Beijos da
[Aventura!
Mas eu. . .  Estas minhas grades em girândolas
[de jasmins,
enquanto as travessas do Cambuci nos livres
da liberdade dos lábios entreabertos! . . .

Arlequinal! Arlequinal!
As nuvens baixas muito grossas,
feitas de corpos de mariposas,
rumorejando na epiderme das árvores. . .
Mas sobre estas minhas grades em girândolas
[de jasmins,
o estelário delira em carnagens de luz,
e meu céu é 'todo um rojão de lágrimas!. . .

E os bondes passam como um fogo de artifício,
sapateando nos trilhos,
jorrando um orifício na treva cor de cal. . .

— Batat’assat’ô furnn! . . .


(Mário de Andrade, Pauliceia Desvairada, 1922)


2.      A partir da leitura do trecho abaixo, relacione aspectos do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” (1924) ao texto da questão anterior, apontando reflexos e contrastes entre as obras de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade.

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá.
[...]
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
[...]
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
[...]
A poesia pau-brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. [...]
[...]
Apenas brasileiros de nossa época. [...]

3.      Gilda de Melo e Antonio Candido afirmam que um dos modos de ler os poemas de Manuel Bandeira “seria pensá-los com referência aos dois polos da Arte, isto é, o que adere estritamente ao real e o que procura subvertê-lo por meio de uma deformação voluntária”. A partir desta afirmação, e também de elementos do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, analise o poema que segue.

O cacto

Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
[privou a cidade de iluminação e energia:

– Era belo, áspero, intratável.
(Manuel Bandeira, 1925. Publicado em Libertinagem, de 1930)

Glossário
Laocoonte: sacerdote de Apolo, que foi morto por serpentes marinhas junto com os filhos em dramático episódio da Guerra de Tróia. Conta a lenda que as serpentes foram enviadas por Poseidon, deus que favorecia aos gregos. “Laocoonte e seus filhos”, escultura em mármore do século I a.C., é exemplar na representação de momentos patéticos da dor humana.
Ugolino: o Conde Ugolino foi trancado com filhos e netos em uma torre de Pisa, até morrerem de fome. Figura na Divina comédia (Inferno, XXXIII), e constitui também tema patético da estatuária ocidental.


2 comentários:

Lucélia Santos disse...

Professor, é pra responder as três questões ou somente duas?

Anônimo disse...

Professor , teria a possibilidade do senhor considerar apenas as primeiras duas questões dessa prova?

ass; Linete