7.1.13

AP1 de Literatura Brasileira III

Meu Povo:
abaixo a AP1, de cujas questões vocês escolherão duas e apenas duas para responder e entregar-me a resposta até o dia 14 de janeiro de 2013, próxima segunda-feira. Peço que não desprezem a redação clara e concisa das repostas, qualidades sempre esperadas pelo leitor que as corrige. Abaixo da trancrição das questões no corpo desta postagem segue link para o arquivo pdf.



Universidade Federal do Ceará
Centro de HumanidadesCurso de LetrasDepartamento de Literatura
Literatura Brasileira III Professor: Marcelo Magalhães1ª ap

1   1. Leia e relacione os textos abaixo, procurando caracterizar os dois autores relacionados e demonstrando a significação de cada um deles no contexto pré-modernista. Argumente e exemplifique com recortes dos textos apresentados.

Texto 1:

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo – cai é o termo – de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Impertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.
Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja – caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.
É impossível idear-se cavaleiro mais chucro e deselegante; sem posição, pernas coladas ao bojo da montaria, tronco pendido para a frente e oscilando à feição da andadura dos pequenos cavalos do sertão, desferrados e maltratados, resistentes e rápidos como poucos. Nesta atitude indolente, acompanhando morosamente, a passo, pelas chapadas, o passo tardo das boiadas, o vaqueiro preguiçoso quase transforma o campeão que cavalga na rede amolecedora em que atravessa dois terços da existência.
Mas se uma rês alevantada envereda, esquiva, adiante, pela caatinga garranchenta, ou se uma ponta de gado, ao longe, se trasmalha, ei-lo em momentos transformado, cravando os acicates de rosetas largas nas ilhargas da montaria e partindo como um dardo, atufando-se velozmente nos dédalos inextricáveis das juremas.
[...]
 (Cunha, Euclides da. “O sertanejo”, In: _____. Os Sertões. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 179-180)

Texto 2:
O Lázaro da Pátria


Filho podre de antigos Goitacases,
Em qualquer parte onde a cabeça ponha,
Deixa circunferências de peçonha,
Marcas oriundas de úlceras e antrazes.

Todos os cinocéfalos vorazes
Cheiram seu corpo. À noite, quando sonha,
Sente no tórax a pressão medonha
Do bruto embate férreo das tenazes.

Mostra aos montes e aos rígidos rochedos
A hedionda elefantíase dos dedos...
Há um cansaço no Cosmos... Anoitece.

Riem as meretrizes no Casino,
E o Lázaro caminha em seu destino
Para um fim que ele mesmo desconhece!



(Anjos, Augusto dos. Eu e outras poesias. São Paulo: Martins Fontes, 1994, p. 14)



2  2. Considerando ainda os textos da questão anterior, explique a seguinte afirmação de Alfredo Bosi, não esquecendo de dar exemplos que ilustrem sua exposição: “Sem forçar contrastes (e excetuando sempre a obra de Augusto dos Anjos), será lícito dizer que a poesia representa, no primeiro vintênio do século, o elemento conservador de motivos e formas, ao passo que a prosa de ficção preludia, em seus melhores representantes, os interesses da geração de 22 e, em particular, dos anos 30.” (O Pré-Modernismo, p. 55).



3   3. A partir da leitura do trecho abaixo, relacione a poética de Augusto dos Anjos com o ensaísmo de Euclides da Cunha, apontando as características fundamentais das obras dos dois escritores pré-modernistas. Exemplifique sua resposta com recortes dos textos apresentados na questão 1.

[...]
Se estilo significa escolha, opção consciente, além de “vontade de exprimir”, então não restam dúvidas sobre a visão dramática do mundo que Euclides desejava comunicar aos leitores. A expressão “barroco científico”, com que já se procurou batizar a sua linguagem, indica-lhe a essência, se em “barroco” visualizamos antes de mais nada um conflito interior, que se quer resolver pela aparência, pelo jogo de antíteses, pelo martelar dos sinônimos ou pelo paroxismo do clímax.
[...]
(Bosi, Alfredo. O Pré-Modernismo, p. 122-3)




Fortaleza, 26 de novembro de 2012.


http://www.4shared.com/office/plHD-_cp/1aAP_LitBrasIII_premodernismo_.html

2 comentários:

Lucélia Santos disse...

Professor, o senhor que faça manuscrito, como a prova, ou digitado?

Marcelo Magalhães disse...

As respostas podem ser manuscritas ou digitadas, contanto que sejam respostas próprias e originais; ou seja, o que importa é a clareza do conteúdo, assim como a consistência dele, e que não haja cópia de fontes escusas ou óbvias. Até segunda-feira!