23.9.13

No teatro de Coelho Netto...

Essa é pra falar um pouco de Coelho Neto, de sua caracterização como escritor pré-modernista e de seu teatro etc. Venho da leitura de "Coelho Neto: as duas faces do espelho", de Herman Lima, um dos textos da Introdução Geral do volume I da Obra seleta, da editora José Aguilar, em três volumes (1958). Chama a atenção o fato de Herman Lima voltar constantemente à defesa do autor de Rei Negro, escritor que foi ferozmente atacado por muitos dos modernistas, e creio que com razão. O seu "cabedal de helenismo", como Herman Lima refere o acentuado gosto de Coelho Neto pelo exotismo da antiguidade, enche páginas e páginas do escritor maranhense, muitas vezes sintoma de um hedonismo literário insuportável a sensibilidades do século XX. O próprio Coelho Neto diria em um texto de reminiscências: "Amo o antigo e esse entranhado amor faz com que eu acredite na metempsicose. Eu fui grego, pelejei nas Termópilas...". Ao ler alguns contemporâneos de Coelho Neto, como Euclides da Cunha ou Lima Barreto, tão diversos entre si, passamos a compreender a necessidade de defesa que Herman Lima expressa no seu texto de apresentação daquele que um sátiro modernista chamaria não de Coelho Neto, mas de "Coelho Avô".
E quanto ao teatro? Vejamos o que diz o mesmo Herman Lima, que comenta depois de transcrever trecho do drama A Muralha, que não me darei ao trabalho de reproduzir aqui:

"É o que há de menos teatro, sem dúvida. A propósito dessa particularidade, ouvi certa vez de um acadêmico, teatrólogo dos de mais êxito nos passados trinta anos, que "no teatro de Coelho Netto não acontece nada". A observação, quando não seja rigorosamente exata, nem por isso deixa de ter muita aplicação, no que se refere a muitas de suas peças. Outras, entretanto, como é em particular o caso de Quebranto -- um grande êxito no seu tempo -- e Nuvem, realmente muito vivas, espirituosas, movimentadas, e capazes de suportar qualquer encenação moderna, indicam sem nenhuma dúvida o dramaturgo e o comediógrafo que havia também no criador de tantas obras admiráveis no romance e no conto. (p. LXXIV)

É mais um trecho de defesa, na tentativa de salvar alguma parcela da numerosíssima produção literária de Coelho Neto.
Mas venho também anunciar que no dia 2 de outubro (com horário ainda por definir), começam os encontros do grupo de estudos vinculado à monitoria de Literatura Brasileira III, em que leremos alguma coisa do prolífico escritor maranhense, assim como de outros escritores mais interessantes e mais vivos, como é o caso de João do Rio. O grupo tem o objetivo de promover leituras de textos teatrais produzidos por escritores relevantes do período estudado nas aulas da disciplina, que focaliza o período pré-modernista e modernista. Ainda esta semana voltarei a este picadeiro com informações mais exatas sobre o grupo, indicando horário e local dos encontros. Por enquanto fiquem sabendo que eles acontecerão sempre às quartas-feiras, e que com os textos dramatúrgicos pretenderemos perceber nuances e fundamentos da vida literária e da produção artística das três primeiras décadas do século XX. Evoé!

Nenhum comentário: