23.12.12

do Parnasianismo ao Modernismo


É de suma importância compreender a passagem, na vida e na produção literária brasileira, que se estende do predomínio parnasiano, em pleno século XX, ao estado de espírito modernista, que se configura claramente a partir da década de 1920. Um dos pontos cruciais dessa passagem, ponto de ruptura definitivo, é a publicação da série de arigos "Mestres do Passado", de Mário de Andrade, na edição paulistana do Jornal do Comércio, em 1921. Mário publicara em 1917 seu Há uma gota de sangue em cada poema, livro ainda distante da agitação arlequinal que marcará Pauliceia desvairada, primeiro livro de poemas de tendências efetivamente modernistas no Brasil. Sobre esta passagem da vida literária brasileira e, particularmente, sobre este percurso artístico de Mário de Andrade, é interessante ouvir o que dizem as palavras de Raul Bopp, em trecho retirado de seu livro Movimentos Modernistas no Brasil (1922-1928):

       
       Manuel Bandeira que, sem dúvida alguma, é o precursor do verso moderno no Brasil, influiu decisivamente na orientação poética de Mário. De regresso a São Paulo, Mário iniciou no Jornal do Comércio daquela cidade (primeira quinzena de agosto de 1921) e sob o título "Mestres do Passado", uma campanha demolidora contra cinco poetas consagrados: Bilac, Francisca Júlia, Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Vicente de Carvalho. Em cinco artigos, Mário, com uma virulência de cristão-novo, passou um rolo compressor sobre as obras dos mestres parnasianos, triturando-os numa análise impiedosa.
       As impressões de leitura de Verhaeren, Villes Tentaculaires, foram formando alicerces para o seu primeiro livro modernistra: Pauliceia desvairada. Leu-o, em parte, pessoalmente, ainda nesse mesmo ano (1921) numa roda de amigos, na casa de Ronald [de Carvalho].


(Bopp, Raul. Movimentos Modernistas no Brasil – 1922-1928. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012)
 


O trecho estabelece aponta para a relação entre Mário e Manuel Bandeira, chamado pelo primeiro de "São João Batista da poesia moderna", relação fundamental para a compreensão da produção poética do período. Além disso, refere-se sobre a formação dos alicerces do primeiro livro modernista, acerca dos quais conversaremos em postagens próximas. Até lá.

Um comentário:

eu precisava registrar disse...

Professor Marcelo, estava pensando cá com os meus botões de figurinos de teatro sobre a sua intenção de trabalho na disciplina tópicos de literatura brasileira e imaginei que você poderia criar um grupo de estudo voltado para abordagem de textos dramáticos (que como a gente já sabe é pouco explorado no curso de letras). A partir dos estudos pode haver a Leitura Dramática dos textos. Já ouviu falar em leitura dramática? Bom, é uma ideia. O que acha?