4.12.12

Ser trezentos, para reler os parnasianos


       [...]
       
         Pois, para reler os parnasianos, fui vestir a minha alma parnasiana. Subi ao sótão cheio de macaquinhos, que existe cá dentro de mim; não sei se fica no coração ou no espírito, porque a arte deve ter tanto de inteligência como de coração. Deve ser intelectual, para realizar um Belo capaz de se opor ao da natureza; deve provir do sentimento, para se aproximar da vida e ser uma extrinsecação consoladora das sensações.
      
      Mas, lá no sótão, abri uma gaveta de cômoda larga, jacarandá maciço, negra, assaz poenta; e, abandonando a alma de fogo e flores de estufa, gasolina e asas de aeroplano (não sei se me compreendem...) que á a minha alma contemporânea e alimento com o meu sangue e minhas células atuais, revesti-me pomposamente com a armadura de oiro e marfim da minha alma parnasiana.
       
       [...]


{Andrade, Mário de. “Mestre do Passado”: “I – Glorificação”, 1921}

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