24.4.14

"Tarde romântica", de Alberto de Oliveira

O banho de Atalanta (1850), de Jean-Jacques Pradier.
Eis mais um belo poema parnasiano em que exulta a "carne sensual". Mário de Andrade, comentando a poesia de Olavo Bilac, fala de sua acentuada "sensualidade", que chega " a ser cinematográfica". No autor das Canções românticas, este aspecto está presente, ainda que insistente demarcado pelas referências clássicas. Destacam-se na leitura do poema a luz incidente, as cores, os aromas, as sugestões tácteis, a própria "carne sensual" enfim. É surpreendente a presença constante da sinestesia, como a que aparece logo no segundo verso do poema, conjugando-se o elemento tátil ("crespo") ao visual ("transparente"): esta figura não é característica do Parnasianismo, mas da poesia simbolista. Boa leitura.






Tarde romântica


Obliquamente o sol, em púrpuras velado,
Fere com um beijo morno o crespo transparente
E aos hálitos da luz o tépido ambiente
Envolve-se num céu prismático e doirado.

Trescala o incenso, a mirra, o cravo recendente
Nas jarras orientais; então do cortinado,
Medrosa, abrindo os véus, num gesto namorado,
Ei-la a Bacante nua! a Sílfide ridente!

Faz-se agora, talvez, como um mistério estranho...
A carne sensual, refrigerada ao banho,
Toma os crivos, a renda, os folhos, o cetim;

Enquanto n´água fresca e láctea e perfumada,
O róseo sabonete, a flor purpureada,
Desbrocha entr'alva espuma a ponta de carmim.


                                               [Alberto de Oliveira. Canções românticas, 1878]



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