13.3.14

Rembrandt na literatura brasileira do início do século XX

Passando em revista os textos dos autores fundamentais do início do século XX no Brasil, aqueles que são classificados pelos tradicionais manuais de literatura como pré-modernistas, surpreendi-me com a presença da imagética de Rembrandt em dois deles: Augusto dos Anjos e Euclides da Cunha. Relacione-se aliás essa referência à imagem jocosa da postagem anterior para termos uma noção mais clara da força sugestiva da pintura de Rembrandt na imaginação dos nossos escritores do final do século XIX e do início do seguinte. Eis os dois trechos, e em seguida a reprodução de um dos mais conhecidos quadros do pintor holandês, intitulado "Aula de Anatomia do Dr. Tulp" (1632).



É o despertar de um povo subterrâneo!
É a fauna cavernícola do crânio
— Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.

[trecho do poema "Monólogo de uma sombra", de Augusto dos Anjos]


Acabo de assistir na estação da Calçada ao desembarcar de cerca de oitenta feridos que chegam de Canudos e não posso, nestas notas ligeiras, esboçar um quadro indefinível com o qual se harmonizariam admiravelmente o gênio sombrio e o pincel funéreo de Rembrandt.
[trecho do Diário de uma expedição, de Euclides da Cunha, datado de 12 de agosto de 1897, Salvador]



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