Pois é, Geraldo Filme é um desses que é preciso conhecer para nos conhecer. Assim como Machado de Assis, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Candido Portinari e Crioulo. Assim também como o sempre surpreendente Itamar Assumpção, que tempos atrás gravou essa beleza de Geraldo Filme.
anotações sobre literatura, notas de aula, reflexos da cultura e a prática culta da vida
4.12.14
1.12.14
E a favela virou poesia
Para além do quinhão de ritmo e alegria que o samba nos traz, ele tem muito a nos ensinar. Geraldo Filme é um dos mestres do samba brasileiro, grande nome do universo musical paulistano. Em "Tristeza do sambista" filosofa sobre uma questão ética da criação artística, que aliás é pertinente para a literatura e para a cultura contemporânea. Ouçam a beleza da sonoridade, a afinação do pensamento e voz da cultura popular de nossas terras...
27.11.14
Debussy para o fim de semestre
Ouvindo
Debussy enquanto corrijo as avaliações típicas do final de semestre.
Ouvindo o "Nocturne", de Debussy, e pensando no poema "Noturno", de
Mário de Andrade. Ouvindo Debussy e divagando sobre o quanto de sua
sonoridade nos sugere o fim do século XIX na cultura europeia, os
anseios que antecipariam seu desfecho anos depois com o início da
primeira grande guerra...
Ouçam vocês, e me digam.
Ouçam vocês, e me digam.
23.11.14
A segunda geração romântica e o complexo de Chapeuzinho Vermelho

(Candido,
Antonio. Formação da literatura
brasileira. Volume 2, pp. 134-5)
18.11.14
Iracema da América, Alencar e Chico Buarque
Ouçam e se deliciem com "Iracema voou", música em que Chico Buarque dialoga poeticamente com a criação de José de Alencar. Reparem a sugestiva condição desta nova Ireacema, não mais uma "virgem dos lábios de mel", e que vez por outra liga a cobrar para o eu lírico da canção, identificando-se ao telefone como "Iracema da América". Perfeito! Acessem através do link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=6O-sJPa1gvQ
16.11.14
Castro Alves na Brasiliana
Vale a pena folhear as páginas dos títulos do condoreiro Castro Alves (1847-1871), reveladoras todas elas do talento e da "inspiração original" (nas palavras de José de Alencar). É especialmente revelador folhear o volume do "drama histórico brasileiro" de Castro Alves, Gonzaga, ou A Revolução de Minas (1875), que nas suas páginas iniciais reproduz cartas de José de Alencar e de Machado de Assis sobre o drama e seu jovem autor. Boa leitura!
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?fq=dc.contributor.author:%22Alves,+Castro,+1847-1871%22
15.11.14
"Canção do Exílio"
O programa Tudo que é sólido pode derreter, produzido pela TV Cultura, comenta textos fundamentais da literatura através de narrativas inteligentes e descontraídas.
Este episódio tematiza o famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio".
12.11.14
"Entre cantos e chibatas"
Interessantíssimos os comentários de Lilia Moritz Schwarcz sobre fotos do século XIX que retratam aspectos da escravidão no Brasil. Instigante para pensarmos em que medida a literatura no Brasil se defrontou com tensões fundamentais decorrentes do sistema escravocrata entre nós. Segue a primeira parte, dos 4 disponíveis no youtube.
11.11.14
Obras completas de Casimiro de Abreu etc.
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.contributor.author%3AAbreu%2C\+Casimiro\+de%2C\+1839\-1860
O endereço acima é o de uma das páginas do site da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (http://www.bbm.usp.br/). Nela estão relacionados os títulos das edições do poeta romântico Casimiro de Abreu, todos disponíveis em versão digitalizada, o que nos faz pensar na recepção da poesia brasileira à época no Brasil e fora dele. Casimiro, por qualidades que foram apontadas por Drummond em postagem anterior, foi poeta certamente difundido entre leitores os mais diversos, e ficamos mesmo imaginando que um poeta como Patativa do Assaré terá se deleitado com versos como estes.
[...]
Há que tempos! Bem me lembro...
Foi num dia de novembro:
Deixava a terra natal;
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.
Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
Pra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada
Esta rosa foi-me dada
Ao som d'um beijo primeiro.
Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
N'outros climas, n'outras plagas;
Mas tinha orações ferventes
D'uns lábios inda inocentes
Em quanto cortasse as vagas.
E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios!
[...]
(Abreu,
Casimiro de. "Rosa murcha". In: _____. As
Primaveras. Rio de Janeiro: Typ. de Paula Brito, 1859)
O encanto pacífico de Casimiro de Abreu
São reveladoras as palavras de Carlos Drummond de Andrade sobre a poesia de Casimiro de Abreu, no livro Confissões de Minas (1944). A primeira parte das confissões de Drummond, aliás, intitula-se "Três poetas românticos", os quais são tratados nos seguintes ensaios: "Fagundes Varela, solitário imperfeito", "No jardim público de Casimiro" e "O sorriso de Gonçalves Dias". Destaco do segundo dois pequenos trechos, que desvela aspectos importantes da poesia de Casimiro.
O trecho acima são as primeiras palavras do ensaio de Drummond. As que seguem foram retiradas de trecho mais avançado, em que estabelece a relação com dois outros importantes poetas do romantismo brasileiro, Álvares de Azevedo e Castro Alves.
"Casimiro guardou, pois, a inocência entre dois demônios poéticos. Antes dele, já Álvares de Azevedo zombara de todas as metafísicas e da própria poesia, recomendando em verso que cortassem uma tripa de seu cadáver para a feitura de uma lira que cantasse os amores da vida. Pouco depois, Castro Alves, ao mesmo tempo em que renovava o conteúdo dos velhos temas amorosos, agredia o leitor com a insolência de novos assuntos: a conspiração de Tiradentes, o tráfico de escravos, a batalha política. O frágil Casimiro esgueirou-se na tempestade, à procura de abrigo para a sua sensibilidade de contornos tão limitados. [...]" (pp. 30-1)
10.11.14
Ambientação do Romantismo Brasileiro
Mais um vídeo para nosso estudo do Romantismo no Brasil, relacionando aspectos culturais, sociológicos, religiosos e artísticos relevantes. Trata-se de mais um episódio de Histórias do Brasil, produzido pela TV Brasil. "O Sangrador e o Doutor, Rio de Janeiro, 1820" é o título do episódio, e revela um pouco do que o movimento romântico no Brasil tentaria a todo custo depurar.
7.11.14
"Não tem pátria um povo que não canta em sua língua." Esse era o lema do compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920). Ele representa um estágio pouco mais avançado em relação à primeira geração de músicos e artistas que tentaram reproduzir no Brasil "o efeito romântico europeu", como considera Ricardo Kanji, músico e apresentador da série "História da música brasileira", riquíssimo programa em dez episódios. Neste, o penúltimo deles, intitulado "Romantismo: o Brasil para poucos", encontramos elementos que facilitam a compreensão do desenvolvimento do Romantismo nas letras brasileiras, com a articulação de mitos de fundação da nacionalidade brasileira, por "uma elite que não sabia como se fazer autêntica", como diz o apresentador do programa. Ouçam para crer, através do link abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=A3AG-xyIlmA
5.11.14
"I-Juca Pirama": reverberações atuais da poesia de Gonçalves Dias
Interessante animação baseada no poema "I-Juca Pirama", de Gonçalves Dias, "o primeiro grande poeta romântico do Brasil", nas palavras de Manuel Bandeira. Interessante pelas imagens que ilustram os versos do poeta maranhense e também pela divagação histórica acerca da imagem do indígena entre nós, do momento mítico do romantismo aos nossos dias.
1.11.14
Esclarecimentos sobre a "Epístola a Termindo Sipílio", de Silva Alvarenga
Mais uma dica de estudo sobre a poesia de Silva Alvarenga, com comentários acerca da "Epístola a Termindo Sipílio" e a estética arcádica. Vale a pena consultar a tese de Gustavo Henrique Tuna (USP, 2009), verificando especificamente o trecho que vai da página 50 a 55, em que o referido poema é comentado. O link para o arquivo pdf da tese é o seguinte:
www.teses.usp.br/teses/.../8/.../GUSTAVO_HENRIQUE_TUNA.pdf
Um pouco mais sobre a poesia de Silva Alvarenga
[...]
Já os
primeiros textos do autor [Silva Alvarenga] se dedicam justamente à elaboração
do discurso didático sobre o fazer poético. As pesquisas de Francisco Topa
revelaram que o primeiro texto impresso com o nome de Alcindo Palmireno, quando
o autor ainda era estudante da Universidade de Coimbra, foi a "Epístola a
Termindo Sipílio", em 1772. Se o poema já era bastante conhecido da
crítica, a nova posição que ele ocupa no conjunto da obra do poeta reforça a
importância da sua teorização de caráter neoclássico.
A "Epístola"
faz o elogio ao O Uraguai de Basílio
da Gama, que não era o que se poderia chamar de uma "unanimidade" no
ambiente português, e aproveita a ocasião para tecer comentários sobre
determinadas práticas e figuras da vida intelectual da metrópole, numa clara
tomada de partido estético. A série de preceitos e críticas que se seguem ao
elogio a O Uraguai reforça a posição
adotada pelo novo autor diante dos hábitos culturais e literários em que está
inserido: defesa do equilíbrio ("Teu Pégaso não voa furioso..., mas ...
conhece a mão e o freio"), valorização dos clássicos ("Ou Boileau
torne a empunhar contra vós a espada"), adequação aos modelos
("Usarás Catulo na morte de quem amas/ D'alambicadas frases e agudos
epigramas?"), segurança dada pelas práticas tradicionais (...), estudo
constante ("Quem sobe mal seguro tem gosto de cair"), necessidade da
crítica (...).
[...] Toda
esta preocupação teórica de Silva Alvarenga pode se justificar porque, inserida
no conjunto de valores neoclássicos, a poesia não é entendida por ele (assim
como por seus contemporâneos) como mero divertimento, mas como atividade que
tem no horizonte a formação moral e intelectual do cidadão, já que é ela quem
dá exemplo das belas ações, inclusive origem às outras disciplinas. [...]
(Morato, Fernando. "Introdução".
In: Alvarenga, Manuel Inácio da
Silva. Obras Poéticas.
São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp.
XLIII-XLIV)
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A POESIA DE SILVA ALVARENGA
A obra de
Silva Alvarenga foi toda escrita na segunda metade do século XVIII, tanto em
Portugal quanto no Brasil, e se situa estética e ideologicamente no
Neoclassicismo de feição arcádica.
De maneira
geral, o Neoclassicismo se empenhou num esforço para "restaurar o bom
gosto perdido" após anos de influência dos modelos poéticos barrocos,
muitas vezes identificados com a Espanha e seu grande poeta, Gongora (Silva
Alvarenga chama-o de "sombrio espanhol", autor de "góticos
enigmas"). Já desde o início do século XVIII havia mostras de desgosto com
os "excessos" da poesia de caráter seiscentista, e a reação vai
ganhando mais espaço e corpo com a publicação de O verdadeiro método de estudar, de Luís Antônio Verney (1746-47),
com a fundação da Arcádia Lusitana (1756) e com a reforma da Universidade de
Coimbra promovida pelo Marquês de Pombal (1772). À época em que Silva Alvarenga
começa a escrever, está plenamente configurada a proposta neoclássica: retomada
dos modelos clássicos, antigos e quinhentistas, e crítica constante da poesia,
que se identifica com a expressão racional do pensamento. "Rien n'est beau
que le vrai; le vrai seule est amaible", escreveu Boileau, cuja Arte Poética é modelo para vários
autores da época.
[...]
(Morato,
Fernando. "Introdução". In: Alvarenga,
Manuel Inácio da Silva. Obras Poéticas.
São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp. XXXII-XXXIII)
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