8.6.12

o que é um poeta parnasiano? (3)

A prosa de O Ateneu é um primor de sarcasmo. A crítica à sociedade da época é microscópica e insistente, abarcando os mais variados aspectos da cultura do final do século XIX. E a moda do Parnaso, com seus poetas principescos e oficiais, não poderia ficar de fora. Já no final do romance, em que o narrador conta os festejos de final de ano letivo, com a presença inclusive da Princesa Isabel, aparece o "grande Dr. Ícaro de Nascimento", designado pelo narrador como "o grande atrativo". "O poeta" é então peça fundamental na formalidade social daquele encontro, em que se inauguraria o busto em bronze de Aristarco, o diretor daquela instituição de ensino tão afamada, e que representa uma espécie de microcosmo da "boa sociedade" de então. Vejamos como Sérgio, o narrador, caracteriza "o poeta", moldado com elementos da poética parnasiana.



[...] Nada disso era o grande atrativo, nada conseguia altear-se para nós um palmo na perspectiva geral da multidão; o nosso grande cuidado era o poeta, “o poeta!” murmurava o colégio, uns à procura, outros indicando. Era aquele de pé, mão no quadril, vistosamente, no palanque do professorado, entornando para as duas bandas, sobre as pessoas mais próximas, uma profusão assombrosa de suíças.
Dentre as suíças, como um gorjeio do bosque, saía um belo nariz alexandrino de dois hemistíquios, artisticamente longo, disfarçando o cavalete da cesura, tal qual os da última moda no Parnaso. À raiz do poético apêndice brilhavam dois olhos vivíssimos, redondos, de coruja, como os de Minerva. Tão vivos ao fundo das órbitas cavas, que bem se percebia ali como deve brilhar o fundo na fisionomia da estrofe. O grande Dr. Ícaro de Nascimento! Vinha ao Ateneu exclusivamente para declamar uma poesia famosa, que havia algum tempo era o sucesso obrigado das festas escolares do Rio: O mestre. [...]

(Pompéia, Raul. O Ateneu. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005, p. 262;
 a ilustração é de Raul Pompéia)

Um comentário:

Anônimo disse...

maldito