4.6.12

Literatura Militante: Lima Barreto



O Brasil é mais complexo, na ordem social econômica, no seu próprio destino, do que Portugal.
A velha terra lusa tem um grande passado. Nós não temos nenhum; só temos futuro. E é dele que a nossa literatura deve tratar, da maneira literária. Nós nos precisamos ligar; precisamos nos compreender uns aos outros; precisamos dizer as qualidades que cada um de nós tem, para bem suportarmos o fardo da vida e dos nossos destinos. Em vez de estarmos aí a cantar cavalheiros de fidalguia suspeita e damas de uma aristocracia de armazém por atacado, porque moram em Botafogo ou Laranjeiras, devemos mostrar nas nossas obras que um negro, um índio, um português ou um italiano se podem entender e se podem amar, no interesse comum de todos nós.
A obra de arte, disse [Hippolyte] Taine, tem por fim dizer o que os simples fatos não dizem. Eles estão aí, à mão, para nós fazermos grandes obras de arte.
[...]
Hoje, quando as religiões estão mortas ou por morrer, o estímulo para elas é a arte. Sendo assim, eu como literato aprendiz que sou, cheio dessa concepção, venho para as letras disposto a reforçar esse sentimento com as minhas pobres e modestas obras.
O termo "militante" de que tenho usado e abusado, não foi pela primeira vez empregado por mim.
O Eça [de Queiroz], por quem não cesso de proclamar a minha admiração, empregou-o, creio que nas Prosas Bárbaras, quando comparou o espírito da literatura francesa com o da portuguesa.
Pode-se lê-lo lá e lá o encontrei. Ele mostrou que desde muito as letras francesas se ocuparam com o debate das questões da época, enquanto as portuguesas limitavam-se às preocupações da forma, dos casos sentimentais e amorosos e da idealização da natureza Aquelas eram – militantes, enquanto estas eram contemplativas e de paixão.
(Lima Barreto, “Literatura Militante”. In: _____. Impressões de leitura, p. 72-3).

2 comentários:

Anônimo disse...

Precisamos. Quem começa?

Stefanie disse...

"Sendo assim, eu como literato aprendiz que sou, cheio dessa concepção, venho para as letras disposto a reforçar esse sentimento com as minhas pobres e modestas obras."
Só grandes pessoas podem ser verdadeiramente humildes; Lima era uma dessas pessoas especiais, perfeito em suas imperfeições. Um brasileiro do qual temos que nos orgulhar.