11.1.11

literatura e psicanálise


Meu caro primo,
Andava eu passeando pelas páginas de uma edição crítica de Iracema [preparada por Silviano Santiago], com pedaços de nossa última conversa ainda reverberando, e encontrei algo interessante. Logo nas notas ao “Prólogo da primeira edição”, Silviano aponta para o seguinte aspecto da criação literária alencarina:


Das constantes mais curiosas no texto alencarino é o fato de sempre usar o esquema metafórico /pai-filho/ para designar a ele, autor, e a seu livro, respectivamente. Já os textos mantêm entre si relações fraternas, pois na advertência a Ubirajara, escreve o romancista: “Este livro é irmão de Iracema. Chamo-lhe de lenda como ao outro.” Esse mesmo cuidado metafórico se encontra também no prólogo a Sonhos d’ouro, assinado por Sênio (pseudônimo do próprio Alencar) e que leva como título: “Bênção paterna”. O texto não pode circular sem a bênção do pai, assim como aqui, linhas acima, se preocupava o “pai” pela “sorte” do livro. Esse cuidado extremo pela sorte do texto (seu livro, dentro do esquema) redunda numa característica excepcional de Alencar: é o escritor brasileiro onde mais claro fica o desejo de sempre cercar, cercear, o caminho livre do texto, precedendo-o e seguindo-o de prefácios e posfácios, bem como protegendo-o com notas explicativas. É o caso de Iracema, O Guarani e Ubirajara, por exemplo. Assim sendo, torna-se difícil a livre interpretação do texto-filho, na medida em que o autor-pai se quer fazer “presente” no momento da leitura, acompanhando o texto de perto, com grande receio de que “seja recebido como estrangeiro e hóspede na terra dos seus”. Preferia Alencar, é claro, que ele ali encontrasse “a intimidade e aconchego da família”. [...]

E segue por aí afora. A nota me parece interessante e informativa, sugerindo possíveis caminhos de reflexão. E é muito curioso notar a presença forte do ‘esquema edípico’ [para o qual me faltam as palavras definidoras devidas] em muitos dos passos literários de Alencar. Fica pra depois uma nova conversa sobre. [...]

Um abraço
do Marcelo

Nenhum comentário: