28.7.14

Histórias do Brasil 1: Cabo Frio, 1530





"Uma coisa importante de se observar é que os europeus foram extremamente bem recebidos ao chegarem ao que viria a ser o Brasil. Os europeus foram muito bem tratados, desde a carta do Caminha se pode ver isso. Foi à medida em que eles foram revelando a sua verdadeira face, isto é, de uma civilização movida pela cobiça, pela violência e pelo desprezo pelo outro, eles começaram a ser tratados digamos como mereciam, e começaram a entrar na categoria de inimigos. E aí começaram a ser também capturados, e eventualmente executados e devorados cerimonialmente. Mas nunca foram os inimigos prediletos dos índios, os inimigos prediletos dos índios eram outros índios. Os europeus estavam ou muito ou muito fora do sistema digamos da humanidade verdadeira definida pelos índios." (Eduardo Viveiros de Castro)


Essa é uma das observações de Eduardo Viveiros de Castro, que pontua os intervalos de uma narrativa ficcional montada a partir de dados históricos de nossa formação. O filme é informativo e bem fundamentado. Vale cruzarmos a caracterização do personagem português (Pero Dias, como ele mesmo se apresenta) que aparece na pequena narrativa do filme e as seguintes observações de Araripe Júnior sobre o fenômeno da obnubilação:



"Em outra parte eu já expliquei a chave para a compreensão da originalidade da literatura brasileira, pelo menos nos dois primeiros séculos, estava na análise do fenômeno aqui operado e a que conferi o nome de obnubilação. Consiste esse fenômeno na transformação por que passavam  os colonos atravessando o oceano Atlântico, e na sua posterior adaptação ao meio físico e ao ambiente primitivo. Basta percorrer as páginas dos cronistas para reconhecer esta verdade. Portugueses, franceses, espanhóis, apenas saltavam no Brasil e internavam-se, perdendo de vista as suas pinaças e caravelas, esqueciam as origens respectivas. Dominados pela rudez do meio, entontecidos pela natureza tropical, abraçados com a terra, todos eles se transformavam quase em selvagens; e se um núcleo forte se colonos, renovado para contínuas viagens, não os sustinha na luta, raro era que não acabassem pintando o corpo de jenipapo e urucu e adotando ideias e até as brutalidade dos indígenas."
(Araripe Júnior)


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