29.7.14

Deus e o diabo no seiscentos brasileiro: uma lenda?

Waly Salomão encarnando O boca do inferno.
Araripe Júnior foi um leitor perspicaz de Gregório de Matos, utilizando seu instrumental "zolesco", como poderíamos dizer utilizando uma expressão da época. "Zolesco" referia-se à perspectiva naturalista de Émile Zola (1840-1902), criador do naturalismo na França (ou seja, perspectiva cientificista e determinista). Alfredo Bosi sugere que Araripe Júnior utilizara inclusive uma fórmula na interpretação da literatura brasileira: "Zola mais obnubilação brasílica = estilo tropical".

Mas o caso agora é de seu comentário sobre o que ele chama de lenda, que se resume no seguinte:

"O padre-mestre Antônio Vieira, referindo-se a Gregório de Matos, disse que 'maior fruto produziam as sátiras do poeta que as missões dele jesuíta'. E houve quem assegurasse que O boca do inferno com os seus versos conseguira moderar o desregramento dos costumes e impedir que se incrementasse o desgoverno da colônia."

Na sequência desse trecho, Araripe completa: "Aí tem uma lenda como qualquer outra". Segundo o crítico cearense, "Vieira não podia acreditar que a sátira fosse capaz de melhorar a alma de ninguém". E completa com a seguinte definição, curta e grossa, da personalidade de Gregório de Matos: Um notabilíssimo canalha, eis o que ele era".

Viva O boca do inferno e suas lendas!

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