21.11.13

Murilo Mendes, franco-atirador: segundo Laís Corrêa de Araújo

Capa desenhada por Di Cavalcanti.
Laís Corrêa de Araújo é autora de um alentado estudo sobre Murilo Mendes, estudo que abre com palavras de uma carta do poeta mineiro à autora, com os seguintes termos: "Eu tenho sido a vida inteira um franco-atirador. Procuro obedecer a uma espécie de lógica interna, de unidade apesar dos contrastes, dilacerações e mudanças; e sempre evitei os programas e manifestos". Sobre a produção poética de Murilo Mendes, que é inaugurada com a publicação do livro Poemas (1930), são esclarecedoras as seguintes palavras.



[...] Embora [apresente] algumas concessões ao humor e à sátira, expedientes então recentemente deflagrados pelo modernismo, Poemas já abre na obra muriliana o jogo livre entre o abstrato e o concreto, na ambiguidade das relações do material poético, em que a preocupação com a essencialidade do homem busca resolver-se pelo defrontar a peito aberto, entre a lucidez e o delírio, a realidade e o mito, as proposições ético-ontológicas do desafio existencial:

“Sou a luta entre um homem acabado
e um outro homem que está andando no ar”
(A luta)

Me puseram o rótulo de homem, vou rindo, vou andando, aos solavancos.
Danço. Rio e choro, estou aqui, estou ali, desarticulado,
gosto de todos, não gosto de ninguém, trabalho com os espíritos do ar,
alguém da terra me faz sinais, não sei mais o que é o bem nem o mal.”
(Mapa)

O tributo de Murilo Mendes ao momento literário, à chamada fase histórica do modernismo, ocorrerá, com certa defasagem, no desvio que é o volume História do Brasil, de 1932. [...]

(Araújo, Laís Corrêa de. Murilo Mendes. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 25-6)


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