10.10.13

Sobre vanguardas e modernismo brasileiro I: futurismo


Il Marinetti.
Será certamente o futurismo a primeira das vanguardas europeias que por aqui aporta, e mais especificamente pelo porto de Santos a caminho de São Paulo. Quando retorna em 1911 de sua primeira viagem à Europa, Oswald de Andrade traria na bagagem notícias de Marinetti, criador do Futurismo, que publicara em 1909 o primeiro manifesto futurista ("O Futurismo"), seguido por tantos outros manifestos conferências polêmicas intervenções. Para se ter uma ideia da curiosidade que cercava a pregação de Marinetti, basta dizer que no mesmo ano em que se publicou aquele primeiro manifesto em Paris, foi ele transcrito no Jornal de Notícias, da Bahia, na edição de 30 de dezembro de 1909 (o original fora publicado no Le Figaro, na edição de 20 de fevereiro daquele ano). "Em 1920 já é grande, em São Paulo, o consumo da palavra futurista", afirma Mário da Silva Brito no livro fundamental sobre os preparativos da instalação do modernismo no Brasil, Antecedentes da Semana de Arte Moderna (no capítulo intitulado "Os 'futuristas de São Paulo"). Em maio de 1921, Oswald de Andrade publica artigo no Jornal do Comércio, intitulado "Meu poeta futurista", no qual comenta sobre os versos ainda inéditos de Pauliceia desvairada, de Mário de Andrade, livro inaugural da poesia modernista paulistana. A pecha de "futurista" não agradaria ao autor de Pauliceia desvairada, que responderia pela imprensa e no próprio "Prefácio interessantíssimo", programa poético daquele livro inaugural. É de lá que retiro o seguinte trecho:
"Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. / Tenho pontos de contato como o
La farola, de Giácomo Balla.
futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria reentrar na obscuridade. Pensei que se discutiriam minhas ideias (que nem são minhas): discutiram minhas intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizariam meu silêncio como esta grita."
É esclarecedor ainda o testemunho de Lima Barreto, que em julho de 1922 registraria o recebimento da revista Klaxon, primeira publicação periódica do modernismo paulista, nos seguintes termos: "esses moços tão estimáveis [os responsáveis pela revista, considerada futurista por Lima Barreto] pensam mesmo que nós não sabíamos disso de futurismo? Há vinte anos, ao mais, que se fala nisto e não há quem leia a mais ordinária revista francesa ou o pasquim mais ordinário da Itália que não conheça as cabotinagens do 'il Marinetti'."
Parte do "Manifesto técnico da literatura futurista" pode ser lido no seguinte endereço: http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/2740978
"O Futurismo", "Manifesto técnico da literatura futurista" e seu "Suplemento" estão estampados no livro Vanguardas europeias e modernismo brasileiro, de Gilberto de Mendonça Teles.


Nenhum comentário: