24.4.12

Entre Mário e Oswald, escolhe o Sérgio:


Eu gostaria de falar mais longamente sobre a personalidade do poeta que escreveu o Noturno de Belo Horizonte [poema de Mário de Andrade] e como só assim teria jeito pra dizer o que penso dele mais à vontade, pra dizer o que me parece bom e o que me parece mau em sua obra ― mau e sempre admirável, não há contradição aqui ―, resisto à tentação. Limito-me a dizer o indispensável: que os pontos fracos nas suas teorias estão quase todos onde elas coincidem com as idéias de Tristão de Athayde. Essa falha tem uma compensação nas estupendas tentativas para a nobilitação da fala brasileira. Repito entretanto que a sua atual atitude intelectualista me desagrada.
Nesse ponto prefiro homens como Oswald de Andrade, que é um dos sujeitos mais extraordinários do modernismo brasileiro; como Prudente de Moraes Neto; Couto de Barros e Antônio de Alcântara Machado. Acho que esses sobretudo representam o ponto de resistência necessário, indispensável contra as ideologias do construtivismo. Esses e alguns outros. Manuel Bandeira, por exemplo, que seria para mim o melhor poeta brasileiro se não existisse Mário de Andrade. E Ribeiro Couto que com Um homem na multidão acaba de publicar um dos três mais belos livros do modernismo brasileiro. Os outros dois são Losango cáqui e Pau-Brasil [livros da autoria de Mário e de Oswald de Andrade, respectivamente],”

[Trecho de "O lado oposto e outros lados" (1926), Sérgio Buarque de Holanda, em “O espírito e a letra. Estudos de crítica literária I, 1920-1947”. Organização, introdução e notas Antonio Arnoni Prado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 224-228.]

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