1.9.14

Caracterizando a narrativa naturalista





                A série de seis volumes de A Literatura no Brasil, coordenada por Afrânio e Eduardo Coutinho, tem seu quarto volume  dedicado ao que nele é chamado de "Era realista" e "Era de transição". No capítulo inicial deste volume 4, é o próprio Afrânio Coutinho quem delineia um painel vasto da chamada "Era realista", tratando conjuntamente do Realismo, do Naturalismo e do Parnasianismo no Brasil. Importará aqui destacarmos dois parágrafos que procuram distinguir a narrativa realista da naturalista. O primeiro parágrafo destacado é o seguinte:

                "Há, pois, diferenças fundamentais entre os dois [o escritor realista e o naturalista], como mostra ainda Hibbard: 1) A visão da vida do Naturalismo é mais determinista, mais mecanicista: o homem é um animal, presa de forças fatais e superiores sem efeito e impulsionado pela fisiologia em igualdade de proporções pelo espírito ou pela razão; 2) O naturalista observa o homem por meio do método científico, impessoal e objetivamente, como um 'caso' a ser analisado; 3) O naturalista denota inclinação reformadora: a sua preocupação com os aspectos da inferioridade visam à melhoria das condições sociais que a geraram; 4) O naturalista, com sua preocupação científica, declara-se de interesses amplos e universais, nada é desprovido de importância e significado como assunto, nada que esteja na natureza é indigno da literatura. Essa universalidade e fidelidade ao fato, a todos os fatos, conduz o Naturalismo a certo amoralismo, certa indiferença. Não importa a opinião sobre os atos, mas os atos em si mesmos" (Coutinho, 2004, p. 12).

                E, arrematando a caracterização da prosa naturalista, Coutinho assim a define:

                "O Naturalismo acentua as qualidades do Realismo, acrescentado uma concepção da vida que a vê como o intercurso de forças mecânicas sobre os indivíduos, resultando os atos, o caráter e o destino destes da atuação da hereditariedade e do ambiente. O espírito de objetividade e imparcialidade científicas faz com que o naturalista introduza na literatura todos os assuntos e atividades do homem, inclusive os aspectos bestiais e repulsivos da vida, dando preferência às camadas mais baixas da sociedade. Pelo método documental, pelo uso da linguagem simples, direta, natural, coloquial, mesmo vulgar, e dos dialetos das ciências e profissões, o Naturalismo procura representar toda a natureza, a vida que está próxima da natureza, o homem natural" (idem, p. 13).

                Restaria perguntar, nos tempos de hoje — desde Baudelaire, pelo menos —, o que seria um "homem natural"...


Referências bibliográficas:
Coutinho, Afrânio (Org.). A Literatura no Brasil, vol. 4. São Paulo: Global, 2004
Baudelaire, Charles. O pintor da vida moderna. São Paulo: Autêntica, 2010.



Um comentário:

Unknown disse...

Professô... arrasô...