18.4.11

o patético e o visual em Gregório

Seguem dois sonetos de Gregório de Matos – o primeiro deles apresenta uma visão do Dia do Juízo; o segundo, soneto dedicado ao Padre Antônio Vieira, por ocasião de sua morte.




O alegre do dia entristecido,

O silêncio da noite perturbado

O resplandor do sol todo eclipsado,

E o luzente da lua desmentido!


Rompa todo o criado em um gemido,

Que é de ti mundo? onde tens parado?

Se tudo neste instante está acabado,

Tanto importa o não ser, como haver sido.


Soa a trombeta da maior altura,

A que a vivos, e mortos traz o aviso

Da desventura de uns, d'outros ventura.


Acabe o mundo, porque é já preciso,

Erga-se o morto, deixe a sepultura,

Porque é chegado o dia do juízo.














Corpo a corpo à campanha embravecida,

Braço a braço à batalha rigorosa

Sai Vieira com sanha belicosa,

De impaciente a morte sai vestida.


Invistem-se cruéis, e na investida

A morte se admirou menos lustrosa,

Que Vieira com força portentosa

Sua ira cruel prostrou vencida.


Porém ele vendo então, que na empresa

Deixava a morte à morte: e ninguém nega,

Que seus foros perdia a natureza;


E porque se exercite bruta,

e cega Em devorar as vidas com fereza,

A seu poder rendido a sua entrega.

Um comentário:

Stefanie disse...

Ainda não consegui me acostumar com a linguagem usada por Gregório... mas quem sou eu pra falar?! Depois de tanta discussão em sala, eu, pelo menos, me acostumei a ler seus textos sem tanto escândalo.