3.10.14

O discurso engenhoso de Padre Antônio Vieira

         
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          A palavra "engenhoso" me parece muito própria para indicar o gênero do discurso de que tratarei aqui. No sentido em que a emprego, é uma palavra muito frequente no século XVII em Portugal, na Espanha e na Itália. O Pe. Bouhours, um dos teóricos do discurso "clássico", a usou, a seu modo, para caracterizar especialmente a maneira de expressão que condenava nos italianos e espanhóis, chamados, hoje, por nós, de "barrocos". Poderia eu também escolher a palavra "agudo" que se encontra, ao lado de engenhoso, no título do célebre trabalho de Gracían [trata-se da Arte de ingenio, tratado de la agudeza]. Mas "agudo" e "agudeza" parecem-me convir melhor aos resultados que os processos "engenhosos" procuram obter. Todo discurso "engenhoso" se ordena em função de uma "agudeza", que ele prepara e serve. A palavra "barroco", que também poderia ser usada, engloba um conjunto de atitudes e processos que ultrapassam largamente o campo semântico de "engenhoso". E o que eu desejaria mostrar, sobretudo, é que o essencial do barroco, no que se refere à literatura, reside justamente no "discurso engenhoso".
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(Saraiva, Antonio J. O discurso engenhoso: estudos sobre Vieira e outros autores barrocos.
São Paulo: Perspectiva, 1980, p. 8)

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