Luiz Gonzaga Duque Estrada (RJ, 1863/1911) foi jornalista, crítico de
arte, pintor e escritor. Autor de A Arte Brasileira: Pintura e
Escultura (Rio de Janeiro, H. Lombaerts Editor, 1888), onde um dos
autores analisados é Rodolfo Amoedo, eis o relato que faz a respeito das
reações da Academia, e dos visitantes, sobre a bela tela de Amoedo em
exibição na Exposição de 1884:
"Esse sentimento vivo da
natureza, essa rápida maneira de sentir a forma, a densidade e a cor dos
corpos manifesta-se com maior habilidade no 'Estudo de Mulher'. A
mulher, nua, sobre um divã de seda escura, é vista de costas; tem um dos
braços caído para o chão, indolente, preguiçoso, segurando uma
ventarola chinesa. O conjunto é todo claro; as paredes, os panos, a
almofada em que a figura pousa a doce cabeça, redonda e penteada, o
tapete felpudo que cobre o chão, são de uma tonalidade cor de opala e,
numas e noutras nuanças, de um tom mais carregado. O modelado do corpo
da mulher atinge a perfeição. Sente-se através dessa carne, carne que é
carne, carne que tem sangue, a disposição dos músculos. E para
qualificar o poder de realidade que tem este quadro, a estranha vida que
anima esta obra-prima, apenas encontro como forma clara e única a frase
dita por uma senhora diante dessa figura: 'Que mulher sem-vergonha!'
Este
quadro que, na exposição de 1884 foi o mais bem pintado, o que resumia
mais conhecimento de modelado e maior savoir faire, isto é,
espontaneidade, segurança e elegância de toque, mereceu da congregação
acadêmica uma censura por... ser imoral!
Oh! a pudica
congregação quer uma arte ad usum Delphini! Que a moral seja respeitada
com auxílio da folha de videira, senhores artistas; assim o manda e
ordena a sempre pura, a sempre imaculada, a sempre virgem e muito
ilustre e sábia congregação acadêmica".
Na Revista Kosmos, nº
1, publicada em 1905, Gonzaga Dutra ainda analisa a obra de Amoedo e
sobre o quadro cuja imagem mostramos hoje, diz: (...) "o maravilhoso
nu do modelo em repouso, que confunde, num só e inestimável valor, a
perturbadora verdade de um desnudamento romano e a importância duma
academia perfeitíssima”.
“Estudo de mulher” é óleo sobre tela, 150,5 x 200 cm
Acervo Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ
[texto retirado do Blog do Noblat: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/01/08/pintura-estudo-de-mulher-1884-419964.asp]
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