[...]
Talvez Manuel Bandeira fale do “lirismo
dos loucos”, do “lirismo dos bêbados/ o difícil e pungente lirismo dos bêbados”,
movido pela necessidade de dar nome às palavras dos homens, mas, reconhecendo
que vivemos em um período de crise, de uma cisão social e psíquica exasperada,
ao dar nome às palavras e aos sofrimentos dos homens, entrega-nos, em custódia,
o nome e a identidade de seres igualmente feridos. Esta identificação do poeta
a seres marginais, a seres feridos, a seres mínimos, dá-nos a medida da
pungência e da compaixão característica de sua poesia. [...] A
experiência da palavra, que encontra a sua síntese mais alta na poesia, é
emoção. É apenas porque o lirismo propõe-se como projeto conservar plena e
íntegra recordação da experiência individual e social, que o poeta pode
integrar a experiência de seres que vivem à margem e trazê-los, com a força
compassiva de sua emoção e de seu canto, para junto de nós.
[...]
[Koshiyama,
Jorge. “O lirismo em si mesmo: leitura de ‘Poética’ de Manuel Bandeira. In: Bosi, Alfredo (Org.).
Leitura de poesia. São Paulo: Ática,
1996, p. 92]
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