No famoso capítulo VII de Memórias Póstumas de Brás Cubas, "O delírio", Machado de Assis faz figurar "as formas várias de um mal" com "vestes de arlequim". O trecho pode ser interessante para a discussão do "Arlequinal" em Mário de Andrade. Segue um recorte do capítulo:
Eram as formas várias de um mal, que
ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas
vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas
cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor
bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das
cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho
de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto
precário, com a agulha da imaginação; e essa figura – nada menos que a quimera
da felicidade – ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda,
e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se,
como uma ilusão.
[Machado de Assis. Memórias
Póstumas de Brás Cubas. Capítulo VII: “O delírio”; ilustra esta postagem "Arlequim" (1918), de Pablo Picasso]
3 comentários:
O maior (e melhor) escritor brasileiro... sem sombra de dúvidas... Machado de Assis é atemporal... realista? romântico? Ele não cabe em rótulos... Ele deu um novo formato à literatura brasileira!
Também imaginei que vc estivesse brincando. mas eu vi a sua n.......FIM.
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