[...]
Já os
primeiros textos do autor [Silva Alvarenga] se dedicam justamente à elaboração
do discurso didático sobre o fazer poético. As pesquisas de Francisco Topa
revelaram que o primeiro texto impresso com o nome de Alcindo Palmireno, quando
o autor ainda era estudante da Universidade de Coimbra, foi a "Epístola a
Termindo Sipílio", em 1772. Se o poema já era bastante conhecido da
crítica, a nova posição que ele ocupa no conjunto da obra do poeta reforça a
importância da sua teorização de caráter neoclássico.
A "Epístola"
faz o elogio ao O Uraguai de Basílio
da Gama, que não era o que se poderia chamar de uma "unanimidade" no
ambiente português, e aproveita a ocasião para tecer comentários sobre
determinadas práticas e figuras da vida intelectual da metrópole, numa clara
tomada de partido estético. A série de preceitos e críticas que se seguem ao
elogio a O Uraguai reforça a posição
adotada pelo novo autor diante dos hábitos culturais e literários em que está
inserido: defesa do equilíbrio ("Teu Pégaso não voa furioso..., mas ...
conhece a mão e o freio"), valorização dos clássicos ("Ou Boileau
torne a empunhar contra vós a espada"), adequação aos modelos
("Usarás Catulo na morte de quem amas/ D'alambicadas frases e agudos
epigramas?"), segurança dada pelas práticas tradicionais (...), estudo
constante ("Quem sobe mal seguro tem gosto de cair"), necessidade da
crítica (...).
[...] Toda
esta preocupação teórica de Silva Alvarenga pode se justificar porque, inserida
no conjunto de valores neoclássicos, a poesia não é entendida por ele (assim
como por seus contemporâneos) como mero divertimento, mas como atividade que
tem no horizonte a formação moral e intelectual do cidadão, já que é ela quem
dá exemplo das belas ações, inclusive origem às outras disciplinas. [...]
(Morato, Fernando. "Introdução".
In: Alvarenga, Manuel Inácio da
Silva. Obras Poéticas.
São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp.
XLIII-XLIV)
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