11.11.14

O encanto pacífico de Casimiro de Abreu

São reveladoras as palavras de Carlos Drummond de Andrade sobre a poesia de Casimiro de Abreu, no livro Confissões de Minas (1944). A primeira parte das confissões de Drummond, aliás, intitula-se "Três poetas românticos", os quais são tratados nos seguintes ensaios: "Fagundes Varela, solitário imperfeito", "No jardim público de Casimiro" e "O sorriso de Gonçalves Dias". Destaco do segundo dois pequenos trechos, que desvela aspectos importantes da poesia de Casimiro.

"O encanto de Casimiro de Abreu está na tocante vulgaridade. Em sua poesia tudo é comum a todos. Nenhum sentimento nele se diferencia dos sentimentos gerais, que visitam qualquer espécie de homem, de qualquer classe, em qualquer país. Casimiro dirige-se igualmente a todos, e por isso mesmo é restrita a matéria de sua poesia: abrange somente aquela região em que não operam as distinções filosóficas, os credos políticos, a tumultuosa torrente da vida social." (p.29)

O trecho acima são as primeiras palavras do ensaio de Drummond. As que seguem foram retiradas de trecho mais avançado, em que estabelece a relação com dois outros importantes poetas do romantismo brasileiro, Álvares de Azevedo e Castro Alves.


"Casimiro guardou, pois, a inocência entre dois demônios poéticos. Antes dele, já Álvares de Azevedo zombara de todas as metafísicas e da própria poesia, recomendando em verso que cortassem uma tripa de seu cadáver para a feitura de uma lira que cantasse os amores da vida. Pouco depois, Castro Alves, ao mesmo tempo em que renovava o conteúdo dos velhos temas amorosos, agredia o leitor com a insolência de novos assuntos: a conspiração de Tiradentes, o tráfico de escravos, a batalha política. O frágil Casimiro esgueirou-se na tempestade, à procura de abrigo para a sua sensibilidade de contornos tão limitados. [...]" (pp. 30-1)

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