23.11.14

A segunda geração romântica e o complexo de Chapeuzinho Vermelho





Pessimismo, "humor negro", perversidade, de mãos dadas com ternura, singeleza, doçura, nestes poetas é que os devemos procurar. Considerados em bloco, formam um conjunto em que se manifestam as características mais peculiares do espírito romântico. Inclusive a atração pela morte, a autodestruição dos que não se sentem ajustados ao mundo. Todos eles sentiram de modo profundo a vocação da poesia; vocação exigente, que incompatibilizava com as carreiras abertas pela sociedade do Império e nas quais se acomodaram eficazmente, na geração anterior, [Gonçalves de] Magalhães, Porto Alegre, [Joaquim] Norberto, o próprio Gonçalves Dias: advocacia, magistério, comércio, clero, armas, agricultura, burocracia. Por isso Junqueira Freire falhou como frade, Casimiro [de Abreu] como caixeiro, Laurindo [Rabelo] como médico, [Fagundes] Varela como tudo. [...] Por isso, o melhor estudante da Academia de São Paulo, Álvares de Azevedo, morreu antes de obter o canudo de bacharel. Todos eles escolhem as veredas mais perigosas, como quem experimenta com o próprio ser; um verdadeiro complexo de Chapeuzinho Vermelho, que leva a tomar o pior caminho para cair na boca do lobo, com um arrepio fascinado de masoquismo. [...]

(Candido, Antonio. Formação da literatura brasileira. Volume 2, pp. 134-5)


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