Literatura
Brasileira III – Exercício
de Revisão
- Relacione os aspectos indicados nos textos abaixo com a produção literária de Lima Barreto e Euclides da Cunha (estilo, gênero e tópicos temáticos):
Texto
1:
O
Brasil é mais complexo, na ordem social econômica, no seu próprio
destino, do que Portugal.
A velha terra lusa tem um grande
passado. Nós não temos nenhum; só temos futuro. E é dele que a
nossa literatura deve tratar, da maneira literária. Nós nos
precisamos ligar; precisamos nos compreender uns aos outros;
precisamos dizer as qualidades que cada um de nós tem, para bem
suportarmos o fardo da vida e dos nossos destinos. Em vez de estarmos
aí a cantar cavalheiros de fidalguia suspeita e damas de uma
aristocracia de armazém por atacado, porque moram em Botafogo ou
Laranjeiras, devemos mostrar nas nossas obras que um negro, um índio,
um português ou um italiano se podem entender e se podem amar, no
interesse comum de todos nós.
A obra de arte, disse
[Hippolyte] Taine, tem por fim dizer o que os simples fatos não
dizem. Eles estão aí, à mão, para nós fazermos grandes obras de
arte.
[...]
Hoje, quando as religiões estão
mortas ou por morrer, o estímulo para elas é a arte. Sendo assim,
eu como literato aprendiz que sou, cheio dessa concepção, venho
para as letras disposto a reforçar esse sentimento com as minhas
pobres e modestas obras.
O termo "militante" de
que tenho usado e abusado, não foi pela primeira vez empregado por
mim.
O Eça [de
Queiroz], por quem não cesso de proclamar a minha admiração,
empregou-o, creio que nas Prosas
Bárbaras,
quando comparou o espírito da literatura francesa com o da
portuguesa.
Pode-se lê-lo lá e lá o
encontrei. Ele mostrou que desde muito as letras francesas se
ocuparam com o debate das questões da época, enquanto as
portuguesas limitavam-se às preocupações da forma, dos casos
sentimentais e amorosos e da idealização da natureza Aquelas eram –
militantes, enquanto estas eram contemplativas e de paixão.
(Lima
Barreto,
“Literatura Militante”. In: _____. Impressões
de leitura, p.
72-3).
Texto
2:
[...] Num ponto apenas vacilo –
o que se refere ao emprego dos termos técnicos. Aí, a meu ver, a
crítica não foi justa. / Sagrados pela ciência e sendo de algum
modo, permita-me a expressão, os aristocratas da linguagem, nada
justifica o sistemático desprezo que os homens de letras –
sobretudo se considerarmos que o consórcio da ciência e da arte,
sob qualquer de seus aspectos, é hoje a tendência mais elevada do
pensamento humano. / Um grande sábio e um notável escritor,
[Marcellin] Barthelot, definiu, fazem poucos anos, o fenômeno, no
memorável discurso com que entrou na Academia Francesa. / Segundo
se colhe de suas deduções rigorosíssimas, o escritor do futuro
será forçosamente um polígrafo; e qualquer trabalho literário se
distinguirá dos estritamente científicos, apenas, por uma síntese
mais delicada [...].
(Cunha,
Euclides da. “[Carta] A José Veríssimo”, In: _____. Obra
completa, vol. II,
p.653)
- Considerando ainda os aspectos desenvolvidos nos dois textos da questão anterior, leia e analise o poema que segue, de Augusto dos Anjos, procurando localizar a obra poética do poeta paraibano no momento pré-modernista brasileiro.
APOCALIPSE
Minha divinatória Arte
ultrapassa
Os séculos efêmeros e nota
Diminuição dinâmica, derrota
Na atual força, integérrima,
da Massa.
É a subversão universal que
ameaça
A Natureza, e, em noite aziaga
e ignota,
Destrói a ebulição que a
água alvorota
E põe todos os astros na
desgraça!
São despedaçamentos,
derrubadas,
Federações sidéricas
quebradas...
E eu só, o último a ser, pelo
orbe adiante,
Espião da cataclísmica
surpresa,
A única luz tragicamente acesa
Na universalidade agonizante!
- A partir da leitura comparativa dos textos abaixo, caracterize o momento literário do pré-modernismo, indicando temas fundamentais, escolhas formais e feições estilísticas. Exemplifique com partes dos textos apresentados.
Texto
1:
O
sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo
exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A
sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o
contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a
estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É
desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no
aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem
aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros
desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num
manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade
deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao
primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o
animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um
dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo
a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança
celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o
traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na
marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro,
bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com um amigo, cai logo
– cai é o termo – de cócoras, atravessando largo tempo numa
posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica
suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares,
com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É
o homem permanentemente fatigado.
Reflete
a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na
palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na
cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à
imobilidade e à quietude.
Entretanto,
toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada
é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso.
Naquela organização combalida operam-se, em segundos,
transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer
incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O
homem transfigura-se. Impertiga-se, estadeando novos relevos, novas
linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre
os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e
corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos
os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar
do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador
de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de
força e agilidade extraordinárias.
Este
contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento,
em todos os pormenores da vida sertaneja – caracterizado sempre
pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e
apatias longas.
É
impossível idear-se cavaleiro mais chucro e deselegante; sem
posição, pernas coladas ao bojo da montaria, tronco pendido para a
frente e oscilando à feição da andadura dos pequenos cavalos do
sertão, desferrados e maltratados, resistentes e rápidos como
poucos. Nesta atitude indolente, acompanhando morosamente, a passo,
pelas chapadas, o passo tardo das boiadas, o vaqueiro preguiçoso
quase transforma o campeão
que cavalga na rede amolecedora em que atravessa dois terços da
existência.
Mas
se uma rês alevantada
envereda, esquiva, adiante, pela caatinga garranchenta,
ou se uma ponta de gado, ao longe, se trasmalha, ei-lo em momentos
transformado, cravando os acicates de rosetas largas nas ilhargas da
montaria e partindo como um dardo, atufando-se velozmente nos
dédalos inextricáveis das juremas.
Texto
2:
O
Lázaro da Pátria
Filho
podre de antigos Goitacases,
Em qualquer parte onde a cabeça ponha,
Deixa circunferências de peçonha,
Marcas oriundas de úlceras e antrazes.
Todos os cinocéfalos vorazes
Cheiram seu corpo. À noite, quando sonha,
Sente no tórax a pressão medonha
Do bruto embate férreo das tenazes.
Mostra aos montes e aos rígidos rochedos
A hedionda elefantíase dos dedos...
Há um cansaço no Cosmos... Anoitece.
Riem as meretrizes no Casino,
E o Lázaro caminha em seu destino
Para um fim que ele mesmo desconhece!
Em qualquer parte onde a cabeça ponha,
Deixa circunferências de peçonha,
Marcas oriundas de úlceras e antrazes.
Todos os cinocéfalos vorazes
Cheiram seu corpo. À noite, quando sonha,
Sente no tórax a pressão medonha
Do bruto embate férreo das tenazes.
Mostra aos montes e aos rígidos rochedos
A hedionda elefantíase dos dedos...
Há um cansaço no Cosmos... Anoitece.
Riem as meretrizes no Casino,
E o Lázaro caminha em seu destino
Para um fim que ele mesmo desconhece!
- Explique a seguinte afirmação de Alfredo Bosi, não esquecendo de dar exemplos que ilustrem sua exposição: “Sem forçar contrastes (e excetuando sempre a obra de Augusto dos Anjos), será lícito dizer que a poesia representa, no primeiro vintênio do século, o elemento conservador de motivos e formas, ao passo que a prosa de ficção preludia, em seus melhores representantes, os interesses da geração de 22 e, em particular, dos anos 30.” (O Pré-Modernismo, p. 55).
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