Literatura
Brasileira II – Professor:
Marcelo Magalhães – Exercício
de Revisão
- Procure caracterizar, a partir dos trechos que seguem, a estética realista e a narrativa naturalista. Caracterize também a obra do próprio Machado de Assis, apontando peculiaridades de sua dicção artística frente às escolas com as quais conviveu.
Texto
1
[...]
Devo acrescentar que neste ponto manifesta-se às
vezes uma opinião, que tenho por errônea: é a que só reconhece
espírito nacional nas obras que tratam de assunto local, doutrina
que, a ser exata, limitaria muito os cabedais da nossa literatura.
[...]
Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma
literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos
que lhe oferece a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão
absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor, antes
de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo
e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no
espaço. [...]
(Machado
de Assis.
“Instinto de Nacionalidade”, 1873)
Texto
2
[...]
Ora bem, compreende-se a ruidosa aceitação do
Crime do Padre Amaro.
Era realismo implacável, consequente, lógico, levado à puerilidade
e à obscuridade. Víamos aparecer na nossa língua um realisto sem
rebuço, sem atenuações, sem melindres, resoluto a vibrar o
camartelo no mármore da outra escola, que ao olhos do Sr. Eça de
Queirós parecia uma simples ruína, uma tradição acabada. Não se
conhecia no nosso idioma aquela reprodução fotográfica e servil
das coisas mínimas e ignóbeis. Pela primeira vez, aparecia um livro
em que o escuso e o [...] torpe eram tratados com uma exação de
inventário. [...] Pois que havia de fazer a maioria, senão admirar
a fidelidade de um autor, que não esquece nada, e não oculta nada?
Porque a nova poética é isto, e só chegará à perfeição no dia
em que nos disser o número exato dos fios de que se compõe um lenço
de cambraia ou um esfregão de cozinha. [...]
(Machado
de Assis. “O
Primo Basílio”,
1878)
- Leia e analise o trecho abaixo, procurando identificar nele traços característicos da narrativa naturalista. Não deixe de referir os traços já indicados por trechos da questão 1.
[...]
Por esse tempo Magdá era acometida por uma
explosão de soluços, e chorava copiosamente, o peito muito
oprimido.
— Ora até que enfim! rosnou o doutor. E,
erguendo-se, soprou para o Conselheiro, a descer as mangas da camisa
e da sobrecasaca, que havia arregaçado: — Pronto! Estes soluços
continuarão ainda por algum tempo, e depois ela sossegará.
Naturalmente há de dormir. O que lhe pode aparecer é a
cefalalgia...
— Como?
— Dores de cabeça. Mas para isso você lhe dará
o remédio que vou receitar.
E saíram juntos para ir ao escritório.
— É o diabo!... praguejava entre dentes o
brutalhão, enquanto atravessava o corredor ao lado do Conselheiro,
enfiando às pressas o seu inseparável sobretudo de casimira
alvadia. — É o diabo! Esta menina já devia ter casado!
— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não
é por falta de esforços de minha parte, creia!
— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico
e tão bom para procriar, se sacrifique deste modo! Enfim — ainda
não é tarde; mas se ela não casar quanto antes — hum... hum!...
Não respondo pelo resto!
— Então o doutor acha que... ?
Lobão inflamou-se: — Oh! o Conselheiro não
podia imaginar o que eram aqueles temperamentozinhos
impressionáveis!... eram terríveis, eram violentos, quando alguém
tentava contrariá-los! Não pediam — exigiam! — reclamavam!
— E se não lhes dá o que reclamam, prosseguiu,
— aniquilam-se, estrangulam-se, como leões atacados de cólera! É
perigoso brincar com a fera que principia a despertar... O monstro
deu já sinal de si; e, pelo primeiro berro, você bem pode calcular
o que não será quando estiver deveras assanhado!
— Valha-me Deus! suspirou o pobre Conselheiro,
que eu hei de fazer, não dirão?
— Ora essa! Pois já não lhe disse! É casar a
rapariga quanto antes!
— Mas com quem?
— Seja lá com quem for! O útero, conforme
Platão, é uma besta que quer a todo custo conceber no momento
oportuno; se lho não permitem — dana! Ora aí tem!
(Azevedo,
Aluísio. O Homem.
Em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000022.pdf)
3. Faça
um comentário crítico de “O
Alienista”
(de Papéis
Avulsos,
1882), apontando nele traços característicos de seu autor. Retome
os trechos críticos da questão
1,
relacionando aspectos lá apontados à narrativa que conta a
trajetória de Simão Bacamarte e as agruras de sua Casa Verde.
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