O banho de Atalanta (1850), de Jean-Jacques Pradier. |
Eis mais um belo poema parnasiano em que exulta a "carne sensual". Mário de Andrade, comentando a poesia de Olavo Bilac, fala de sua acentuada "sensualidade", que chega " a ser cinematográfica". No autor das Canções românticas, este aspecto está presente, ainda que insistente demarcado pelas referências clássicas. Destacam-se na leitura do poema a luz incidente, as cores, os aromas, as sugestões tácteis, a própria "carne sensual" enfim. É surpreendente a presença constante da sinestesia, como a que aparece logo no segundo verso do poema, conjugando-se o elemento tátil ("crespo") ao visual ("transparente"): esta figura não é característica do Parnasianismo, mas da poesia simbolista. Boa leitura.
Tarde
romântica
Obliquamente
o sol, em púrpuras velado,
Fere com um
beijo morno o crespo transparente
E aos
hálitos da luz o tépido ambiente
Envolve-se
num céu prismático e doirado.
Trescala o
incenso, a mirra, o cravo recendente
Nas jarras
orientais; então do cortinado,
Medrosa,
abrindo os véus, num gesto namorado,
Ei-la a Bacante nua! a Sílfide ridente!
Faz-se
agora, talvez, como um mistério estranho...
A carne
sensual, refrigerada ao banho,
Toma os
crivos, a renda, os folhos, o cetim;
Enquanto
n´água fresca e láctea e perfumada,
O róseo
sabonete, a flor purpureada,
Desbrocha
entr'alva espuma a ponta de carmim.
[Alberto
de Oliveira. Canções românticas,
1878]
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