Gerardo Mello Mourão é, entre os poetas cearenses do século XX, certamente o mais renomado Brasil afora e até mesmo no exterior. Carlos Drummond de Andrade declarou-se "possuído de violenta admiração pelo imenso, dramático e vigoroso painel" de Gerardo, poeta nascido em Ipueiras no dia 8 de janeiro de 1917. Ezra Pound, poeta norteamericano fundamental para a poesia contemporânea, elogiou a trilogia Os Peãs, iniciada pelo livro O País dos Mourões. Em 1998, Gerardo foi agraciado com o Prêmio Jabuti por sua epopeia A Invenção do Mar, considerado pelo crítico Wilson Martins como Os Lusíadas brasileiro. Leia abaixo um poema do bardo cearense, que morreu em 2007.
O QUE AS SEREIAS DIZIAM A
ULISSES NA NOITE DO MAR
Sobre a frase musical de
Ivar Frounberg
"Was
sagen die Sirenen als Odysseus vorbei segelte"
Ninguém jamais ouviu um
canto igual
ao canto que te canto
escuta: as ondas e os
ventos se calaram e a noite e o mar
só ouvem minha voz — a
noite e o mar e tu
marinheiro do mar de rosas
verdes:
virás: é um leito de rosas
e lençóis de jasmim — e ao ritmo
do teu corpo entre a
cintura e as ancas
mais o lençol de aromas de
meu corpo
em monte de pétalas
desfeito:
e dormirás comigo
e os que dormem com deusas
deuses
serão — verás
cada arco de minhas curvas
à forma de teu corpo
moldaremos — e a pele tua
aprenderá da minha
aroma e maciez e música
e entre garganta e nuca
aprenderás
a noite dos que dormem a
aurora dos que acordam
sobre os seios das deusas
também deuses.
Vem dormir comigo
e
comigo
e todas as sereias.
Todas as deusas se
entregam
ao amante que um dia
possuiu uma deusa
e então todas as fêmeas
dos homens
Helenas, Briseidas e a
Penélope tua
hão de implorar às Musas —
e as Musas a Eros e Afrodite
a volúpia de uma noite
contigo.
Não partas!
se partires
as velas de tua nau serão
escassas
para enxugar-te as
lágrimas — e nunca
nunca mais tocarás a pele
das deusas
nunca mais a virilha das
fêmeas dos homens
e nunca mais serás um
deus
e nunca mais a melodia de
uma canção de amor
dos hinos do himeneu:
abelhas mortas para sempre
irão morar
na pedra do jazigo de cera
de teus ouvidos
cegos.
Mas vem
e vem dormir comigo
e
comigo
e
minhas irmãs e todas
as
sereias do mar
as
sereias da terra
e
as sereias dos céus.
(Rio de Janeiro,
1998)
[o poema e as informações transcritas acima foram retiradas de http://www.germinaliteratura.com.br/literatura_fev2007_josevieirademelo.htm]
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