"[...] Logo depois [do surgimento do livro Coroa de Rosas e Espinhos, de Mário da Silveira, em 1921] apareceria em Fortaleza o livro de estréia de Ribeiro Couto O Jardim das Confidências, despertando o entusiasmo de alguns e a crítica mordaz de outros. Nomes destacados se não investiam contra o poeta também não o elogiavam, enquanto outros buscavam ridicularizar a poesia chamada penumbrista, compondo imitações nas quais o traço sentimental e lírico era substituído pelo paródico, pelo humorismo por vezes achincalhante. Entretanto, o penumbrismo encontrava eco nas camadas mais jovens, entre poetas e intelectuais do segundo time, a que pertencíamos Jáder de Carvalho, eu e outros poucos. E não somente nos círculos literários e jornalísticos, mas no seio de associações e grêmios e principalmente no meio de estudantes e comerciários, estes últimos constituindo uma classe letrada, participante, bem atenta aos movimentos de arte e cultura do Estado.
No Café Riche, onde nos amesendávamos durante os minutos de sobra do almoço, discutíamos e recitávamos Ribeiro Couto. Embora se tratasse de livro muito paulista e muitos de nós não soubéssemos nem o que havia de diferente entre o nosso chuvisco e a garoa tão mencionada em suas páginas, o fato é que, por uma espécie de fadiga solar, nós, os da terra luminosa de sol candente, encontrávamos na doce penumbra da poesoa de Ribeiro Couto suave e repousante aconchego. Estávamos cansados dos parnasianos brilhantes e bem arrumados, dos versos esculturais e lentejoulantes, de poesia eloqüente, cheia de estardalhaço, de cores e de luzes. [...]"
(Alencar, Edigar de. Variações em Tom Menor : letras cearenses. Estudo introdutório de Sânzio de Azevedo. Fortaleza: UFC, 1984,
pp. 30-31)
E assim continua o escritor e poeta Edigar de Alencar, em uma linguagem fluente, simpática e evocativa. Adiante Edigar diz acreditar ter "sido no Ceará o versejador mais fortemente influenciado pela poética de Ribeiro Couto", além de comentar algumas das reações de prestigiados escritores cearenses contra o penumbrismo, como é o caso de Antônio Sales. Vale, portanto, a leitura destas páginas de memórias, que dão vida e cor ao registro histórico do período.
Nenhum comentário:
Postar um comentário