"As condições de desenvolvimento dos espíritos em profundidade, em sutileza, em perfeição, em poder requintado, estão dissipadas. Tudo se declara contra as possibilidades de vida espiritual independente. As lamúrias dos poetas de sessenta anos atrás nos parecem pura retórica perto dos lamentos que a época atual extrairia dos seres líricos, se eles não sentissem a inutilidade de gemer no meio do alarido universal, do barulho tumultuado das máquinas e das armas, dos gritos da multidão e das arengas ingênuas e formidáveis de seus domadores e condutores.
Terminarei, então, observando que o 'Simbolismo' é, de hoje em diante, o símbolo nominal do estado de espírito e das coisas do espírito mais oposto àquele que reina, e mesmo que governa, atualmente.
Nunca a Torre de marfim pareceu tão alta."
(Valéry, Paul. "Existência do Simbolismo", p. 76-77)
Além da provocação que podemos encontrar por trás das palavras melancólicas de Paul Valéry, elas nos remetem também à "vontade de aristocratização" que marcou a produção artística de Cruz e Sousa, a mais alta expressão do Simbolismo no Brasil. Sobre ele escreveu Roger Bastide as seguintes palavras:
"Aqui igualmente o Simbolismo lhe permitia, melhor ainda do que no Parnaso, essa promessa de aristocratização. A torre de marfim, o poema obscuro, compreensível a uma pequena minoria, a cultura doentia da inteligência e da sensibilidade, o horror à vulgaridade, uma arte de reticências e de sutilezas, eis o que oferece o maior poeta afro-brasileiro para provar a sua aristocracia. Tornar-se-á também o tipo mesmo do esteta, aquele que, como ele disse, se recusa às sensações elementares, físicas, terrestres, para sentir unicamente com seus nervos, com suas fibras, as emoções mais etéreas, aquelas que escapam ao comum dos mortais. Assim a sociedade deseja rebaixá-lo, mas ela nada pode sobre o seu espírito de artista. De chofre, coloca-se no primeiro plano, na elite da poesia pura [...]."
(Bastide, Roger. "A nostalgia do branco", p. 66-67)
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