Publicado na Revista Brazileira em 1879, o artigo "A Nova Geração", de Machado de Assis, aponta os mais evidentes poetas do momento, fazendo a crítica de sua produção poética. Um dos aspectos criticados são justamente as confluências entre literatura e cientificismo, que àquela época ganhavam grande intensidade na produção literária, em prosa e em verso. A convergência entre literatura e cientificismo resultaria, em prosa, no que conhecemos pelo nome de Naturalismo; e, em verso, resultaria no que se chamou então de Poesia Científica.
O que importa agora ressaltar, entretanto, é a conexão que se pode estabelecer entre as críticas feitas ao casamento de literatura e cientificismo e alguns contos de Papéis Avulsos (1882), especialmente "O Alienista". O trecho que segue é relevante para conpreendermos parte da visão crítica que Machado de Assis projeta na história de Itaguaí e de seu alienista, o médico Simão Bacamarte.
A nova
geração freqüenta os escritores da ciência; não há aí poeta digno desse nome
que não converse um pouco, ao menos, com os naturalistas e filósofos modernos.
Devem, todavia, acautelar-se de um mal: o pedantismo. Geralmente, a mocidade,
sobretudo a mocidade de um tempo de renovação científica e literária, não tem
outra preocupação mais do que mostrar às outras gentes que há uma porção de
coisas que estas ignoram; e daí vem que os nomes ainda frescos na memória, a
terminologia apanhada pela rama, são logo transferidos ao papel, e quanto mais crespos
forem os nomes e as palavras, tanto melhor. Digo aos moços que a verdadeira
ciência não é a que se incrusta para ornato, mas a que se assimila para
nutrição; e que o modo eficaz de mostrar que se possui um processo científico,
não é proclamá-lo a todos os instantes, mas aplicá-lo oportunamente. Nisto o
melhor exemplo são os luminares da ciência: releiam os moços o seu Spencer e
seu Darwin. Fujam também a outro perigo: o espírito de seita, mais próprio das
gerações feitas e das instituições petrificadas. [...]
[Assis, Machado de. "A Nova Geração", 1879;
ilustra esta postagem óleo de Edouard Manet retratando Émile Zola]
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