A
série de seis volumes de A Literatura no
Brasil, coordenada por Afrânio e Eduardo Coutinho, tem seu quarto
volume dedicado ao que nele é chamado de
"Era realista" e "Era de transição". No capítulo inicial
deste volume 4, é o próprio Afrânio Coutinho quem delineia um painel vasto da
chamada "Era realista", tratando conjuntamente do Realismo, do
Naturalismo e do Parnasianismo no Brasil. Importará aqui destacarmos dois parágrafos
que procuram distinguir a narrativa realista da naturalista. O primeiro
parágrafo destacado é o seguinte:
"Há, pois, diferenças
fundamentais entre os dois [o escritor realista e o naturalista], como mostra
ainda Hibbard: 1) A visão da vida do Naturalismo é mais determinista, mais
mecanicista: o homem é um animal, presa de forças fatais e superiores sem
efeito e impulsionado pela fisiologia em igualdade de proporções pelo espírito
ou pela razão; 2) O naturalista observa o homem por meio do método científico,
impessoal e objetivamente, como um 'caso' a ser analisado; 3) O naturalista
denota inclinação reformadora: a sua preocupação com os aspectos da
inferioridade visam à melhoria das condições sociais que a geraram; 4) O
naturalista, com sua preocupação científica, declara-se de interesses amplos e
universais, nada é desprovido de importância e significado como assunto, nada
que esteja na natureza é indigno da literatura. Essa universalidade e
fidelidade ao fato, a todos os fatos, conduz o Naturalismo a certo amoralismo,
certa indiferença. Não importa a opinião sobre os atos, mas os atos em si
mesmos" (Coutinho, 2004, p.
12).
E,
arrematando a caracterização da prosa naturalista, Coutinho assim a define:
"O Naturalismo acentua as
qualidades do Realismo, acrescentado uma concepção da vida que a vê como o
intercurso de forças mecânicas sobre os indivíduos, resultando os atos, o
caráter e o destino destes da atuação da hereditariedade e do ambiente. O
espírito de objetividade e imparcialidade científicas faz com que o naturalista
introduza na literatura todos os assuntos e atividades do homem, inclusive os
aspectos bestiais e repulsivos da vida, dando preferência às camadas mais
baixas da sociedade. Pelo método documental, pelo uso da linguagem simples,
direta, natural, coloquial, mesmo vulgar, e dos dialetos das ciências e
profissões, o Naturalismo procura representar toda a natureza, a vida que está
próxima da natureza, o homem natural" (idem, p. 13).
Restaria
perguntar, nos tempos de hoje — desde Baudelaire, pelo menos —, o que seria um
"homem natural"...
Referências
bibliográficas:
Coutinho, Afrânio (Org.). A Literatura no Brasil, vol. 4. São
Paulo: Global, 2004
Baudelaire, Charles. O pintor da vida moderna. São Paulo: Autêntica, 2010.
Um comentário:
Professô... arrasô...
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