Passando em revista os textos dos autores fundamentais do início do século XX no Brasil, aqueles que são classificados pelos tradicionais manuais de literatura como pré-modernistas, surpreendi-me com a presença da imagética de Rembrandt em dois deles: Augusto dos Anjos e Euclides da Cunha. Relacione-se aliás essa referência à imagem jocosa da postagem anterior
para termos uma noção mais clara da força sugestiva da pintura de Rembrandt na
imaginação dos nossos escritores do final do século XIX e do início do
seguinte. Eis os dois trechos, e em seguida a reprodução de um dos mais conhecidos quadros do pintor holandês, intitulado "Aula de Anatomia do Dr. Tulp" (1632).
É o
despertar de um povo subterrâneo!
É a fauna cavernícola do crânio
— Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.
É a fauna cavernícola do crânio
— Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.
[trecho do poema "Monólogo de uma sombra", de Augusto dos Anjos]
Acabo de assistir na estação da Calçada ao desembarcar de cerca de oitenta feridos que chegam de Canudos e não posso, nestas notas ligeiras, esboçar um quadro indefinível com o qual se harmonizariam admiravelmente o gênio sombrio e o pincel funéreo de Rembrandt.
[trecho do Diário de uma expedição, de Euclides da Cunha, datado de 12 de agosto de 1897, Salvador]
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