anotações sobre literatura, notas de aula, reflexos da cultura e a prática culta da vida
31.3.14
O estopim do modernismo
Seguem reproduções de algumas telas representativas da mentalidade e da estética modernistas. Lasar Segall, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral foram artistas importantes para a definição do modernismo brasileiro; e é já famosa a expressão "estopim do modernismo", cunhada por Mário da Silva Brito para designar a primeira exposição de Anita Malfatti, ocorrida em 1917 na capital paulista, violentamente criticada por Monteiro Lobato através do artigo "Paranoia ou mistificação?". Vejam com olhos livres, como propuseram os modernistas da primeira hora.
Emigrante sobre amurada (1929), xilogravura de Lasar Segall. |
Bananal (1927), de Lasar Segall. |
Retrato de Mário de Andrade (1927), de Lasar Segall. |
A Onda (1915-17), de Anita Malfatti. |
A Ventania (1915-17), de Anita Malfatti. Mostra linguagem expressionista estruturada. |
Tropical (1917), de Anita Malfatti. Provavelmente pintada logo após a chegada ao Brasil, quando em contato com as preocupações nacionalistas do momento. |
Autorretrato (1922), de Anita Malfatti. |
O Grupo dos Cinco (1922), desenho de Anita Malfatti. Deitados no chão estão Menotti de Picchia e Oswald de Andrade; ao piano Mário de Andrade e Tarsila do Amaral; no divã a própria Anita. |
A Negra (1923), de Tarsila do Amaral. |
Retrato de Oswald de Andrade (1922), de Tarsila do Amaral. |
Literatura Brasileira III: segunda chamada da Avaliação Parcial 1
Gostaria de lembrar aos alunos de Literatura Brasileira III que na sexta-feira, dia 4 de abril, não haverá aula: é a vez da segunda chamada da primeira avaliação parcial. Nossa próxima aula fica portanto para segunda, dia 7 de abril.
25.3.14
Retratos do Século XIX: 25 de março cearense
Há 130 anos, no Ceará...
Para confabular com as imagens dessa postagem, e conhecer um pouco mais da história do 25 de março cearense (assim como a relação de escritores cearenses com o abolicionismo), confira o rico artigo "Os poetas cearenses e a abolição", de Sânzio de Azevedo, publicado na Revista da Academia Cearense de Letras em 1984, acessível no seguinte endereço:
http://www.ceara.pro.br/acl/revistas/revistas/1984/ACL_1984_05_Os_Poetas_Cearenses_e_a_Abolicao_Sanzio_de_Azevedo.pdf
Jornal "Libertador", edição de 25 de março de 1884. |
23.3.14
Programação para segunda, dia 24/03
A Arte de Contar Histórias apresenta contos de Moreira Campos e Guimarães Rosa
Dôra Guimarães e Tiago Goulart. |
Iniciando as atividades do 1º Centenário de Moreira Campos, será
realizado na segunda-feira (24), das 18h às 20h, o evento Arte de Contar
Histórias, no auditório da Biblioteca de Ciências Humanas da UFC, no
Campus do Benfica. O objetivo é resgatar a prática de contar histórias e
despertar o interesse pela criação de grupos de contadores de
histórias, além de estimular o prazer da leitura, de divulgar textos
clássicos de nossa literatura, e ainda manter e divulgar essa arte
milenar.
Na ocasião, serão narrados, nas vozes de Dôra Guimarães e Tiago
Goulart, os contos "A hora e vez de Augusto Matraga", de João Guimarães
Rosa, e " O peregrino", de Moreira Campos. As inscrições, gratuitas,
podem ser feitas pelo e-mail acervodoescritorcearense@gmail.com, bastando o interessado enviar nome completo.
Fonte: Lídia Barroso, pesquisadora do Acervo dos Escritores Cearense – fone: 85 9714 1915
[Retirado de http://www.ufc.br/noticias/noticias-de-2014/4864-a-arte-de-contar-historias-apresenta-contos-de-moreira-campos-e-guimaraes-rosa]
da mediania regionalista
Na "delimitação do campo" que José Maurício Gomes de Almeida faz na introdução de seu estudo A Tradição Regionalista no Romance Brasileiro (1999), encontramos uma observação sobre o período que vai de 1880 a 1922, apontando nele o destaque do conto e a mediania do romance regionalista. Os termos do estudioso são os seguinte:
"Nessa fase [1880-1922] o elemento novo vai ser
o destaque obtido pelo conto, até então forma secundária na literatura
brasileira. No âmbito específico do romance – que nos diz respeito –, Dona Guidinha do Poço representa a
realização mais inovadora e inventiva. De resto, é necessário ter-se em conta
que, se o Realismo, com sua preocupação objetivista e documental, propiciou o
surgimento de um grande número de romances regionalistas, o nível estético por
eles alcançado não ultrapassou quase nunca uma esforçada mediania. Luzia-Homem [romance de Domingos
Olímpio, publicado em 1903], sem constituir obra excepcional, destaca-se um
pouco dessa massa, daí ter merecido tratamento à parte."
(Almeida, José Maurício G. de. A Tradição Regionalista no Romance Brasileiro (1857-1945).
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999)
19.3.14
Retratos do Século XIX: violência institucionalizada
Desenho de Angelo Agostini retrata escravos no tronco. |
Alguns acontecimentos que marcaram o noticiário nacional nos últimos dias fazem-nos lembrar a história da violência institucionalizada em nosso país. O assassinato de pessoas de comunidades pobres pela polícia tem engrossado o caldo de indignação e consequentes manifestações contra a brutalidade do estado promovido por seu braço armado e selvagem. As imagens que ilustram esta postagem pretendem apontar para essa longa história da violência estatal em nosso país, para que possamos mais e mais levar adiante um questionamento consistente e justo das ações policiais em nosso país.
Desenho de Angelo Agostini (1886). |
16.3.14
Imagens de Canudos
Euclides e Rui, Tristão e Freyre
Já confessei em sala de aula um prazer quase secreto: revelar ou lembrar equívocos do mestre Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, nas suas avaliações críticas. Quanto a ele permaneço mesmo amigo do Oswald de Andrade, que o satirizava com o apelido "Tristinho de Ataúde", realizando em seus estudos uma espécie de sociologia com anjos. E hoje deparei com mais uma do Tristinho, dessa vez a respeito do Euclides da Cunha e da literatura regionalista, equívoco apontado por Gilberto Freyre em artigo sobre o autor de Os Sertões intitulado "Euclides da Cunha: revelador da realidade brasileira". É claro que não se trata de uma observação imparcial, como as do pantagruélico Oswald. Mas isso não elimina a relevância do dissenso freyreano.
Eis o que aponta o autor de Casa grande & Senzala.
Gilberto Freyre. |
Há quem pense de Euclides da Cunha que, "embora nascido no Estado do Rio", ficou "intimamente ligado à literatura nordestina, cuja civilização particularista estudou em suas páginas sensacionais". É a opinião do Professor Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) à página 59 do seu Quadro sintético da literatura brasileira (Rio, 1956). A propósito do que acrescenta o eminente crítico:
A região nordestina no Brasil é tão típica, em seus costumes, como a região amazônica, a mineira, a gaúcha ou a do litoral central.
E lembra já haver outro crítico, o hoje acadêmico Viana Moog, "também romancista e ensaísta de valor", proposto uma "divisão da literatura brasileira baseada nessas idiossincrasias regionais". Com essas digressões – precedidas pelo reconhecimento de um "regionalismo" mineiro (Afonso Arinos) a que se teria juntado um "regionalismo" paulista (Valdomiro Silveira) sem que ao ilustre historiador do Quadro sintético tenha ocorrido a necessidade desses regionalismos e do gaúcho e do mero "pernambucanismo" de Joaquim Nabuco ou do superficial "sertanismo" de Catulo da Paixão Cearense" distinguir-se o muito mais complexo regionalismo em 1924 nascido no Recife – o Professor Alceu Amoroso Lima enche a meia página em que deveria ter fixado o seu julgamento sintético de Euclides pelo mestre atual mais admirado e respeitado da crítica literária no nosso País teria se resumido à moderna atitude de toda uma elite intelectual – a dos críticos literários nacionais – com relação ao autor de Os Sertões. Não se compreende que muito mais do que Euclides tenha merecido do Professor Amoroso Lima, isto é, dos seus julgamentos sintéticos, Rui Barbosa, um tanto arbitrariamente apresentado pelo crítico-historiador como "porventura a mais internacional das nossas grandes figuras literárias, no sentido amplo do termo" (...). Primazia que evidentemente cabe antes a Euclides ou a Machado que a Rui. É uma ilusão, essa, da parte de numerosos brasileiros, de ser Rui Barbosa – que tanto significou, na verdade, para nós, seus compatriotas, e ainda significa, como invulgar jurista-político em quem às virtudes acadêmicas de grande erudito nessas matérias, nas letras clássicas e na filologia, se junto o carisma de bravo homem de ação e de incansável doutrinador de liberalismo, por um lado e por outro, de casticismo – um brasileiro significativo para os meios cultos estrangeiros por qualquer motivo interessados no Brasil. [...] É uma ilusão imaginar-se Rui sob o aspecto de "figura literária" brasileira que tenha impressionado ou impressione ou seduza hoje, estrangeiros, por suas virtudes literárias. Ao afirmá-lo, o crítico e professor Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) resvala num mito que por sua condição mesmo de crítico devia ser o primeiro a retificar. [...]
[Freyre, Gilberto. "Euclides da Cunha: revelador da realidade brasileira".
In: Cunha, Euclides da. Obra completa, vol. I, pp. 30-31]
15.3.14
Retratos do Século XIX: família Azevedo
D. Emília Amália de Azevedo com seus filhos Aluísio e Arthur, por volta de 1870. |
Minha querida Mãe.
É sempre com o mais vivo prazer que recebo suas cartas, mas confesso-lhe que pela última, datada de 28 do mês passado, não me foi muito grata a impressão produzida por suas estranhas perguntas a respeito de minha vida e se eu ainda vivia em casa que o Arthur deixara aqui alugada. Ora essa! Eu nada tenho com o Arthur. [...] A viagem do Arthur para a Europa não alterou em coisa nenhuma minha vida, a não ser na saudade que eu sinto dele e de minha cunhada, que ultimamente era uma verdadeira irmã que eu tinha aqui. [...] Passo aqui uma bela vida. Não dependo de ninguém! Absolutamente de ninguém! Nem do Governo, nem do comércio, nem da lavoura. Só dependo de mim mesmo. [...] Desgraçada terra é esta nossa que, quando um homem não é empregado público, nem comerciante, nem traficante de negros ou cousa que o valha, não pode ser considerado como homem independente. Irra com todos os diabos. Basta que leiam o que se publica a meu respeito; basta que reflitam por um instante que eu sou o único romancista que trabalha todos os dias no Rio de Janeiro, para se poder julgar que tenho uma posição, um nome, uma individualidade. Aqui sou o único homem da geração moderna que nunca está doente, que nunca falha e trabalha para três ou quatro jornais ao mesmo tempo. E ainda se me pergunta como vivo! Vivo do trabalho. Não escrevo circulares e ofícios numa Secretaria, não meço chitas num balcão, mas arranco folhetins da cabeça, imaginando, criando, enriquecendo o pobre pecúlio de livros nacionais [...] Enquanto Vossa Mercê pergunta-me como eu consigo viver, e enquanto essas nulidades atenienses talvez cogitem o segredo de minha subsistência, aqui todo mundo que conhece o Rio aponta-me como um exemplo de coragem e de futuro. Em minha casa reúnem-se não os primeiros políticos do Brasil, mas os primeiros espíritos. Aqui aparecem o Machado de Assis, o França Júnior, o Almeida Reis, Victor Meireles, Cardoso de Meneses, Urbano Duarte, Alencar Mendes, Ferro Cardoso, Patrocínio, etc.
[trecho de carta de Aluísio Azevedo endereçada à sua Mãe, D. Emília, de 12 de fevereiro de 1883]
14.3.14
Os Sertões, por Leopoldo Bernucci
O professor Leopoldo Bernucci, da Universidade da Califórnia/Davis, fala sobre a vida e a obra do escritor Euclides da Cunha. O programa destaca o livro Os Sertões, que retrata a Guerra dos Canudos.
Para assistir, clique no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=SI97o38QfjY&list=PLxI8Can9yAHfwU1xgIgN2QLh6SuYsV2gG
13.3.14
Rembrandt na literatura brasileira do início do século XX
Passando em revista os textos dos autores fundamentais do início do século XX no Brasil, aqueles que são classificados pelos tradicionais manuais de literatura como pré-modernistas, surpreendi-me com a presença da imagética de Rembrandt em dois deles: Augusto dos Anjos e Euclides da Cunha. Relacione-se aliás essa referência à imagem jocosa da postagem anterior
para termos uma noção mais clara da força sugestiva da pintura de Rembrandt na
imaginação dos nossos escritores do final do século XIX e do início do
seguinte. Eis os dois trechos, e em seguida a reprodução de um dos mais conhecidos quadros do pintor holandês, intitulado "Aula de Anatomia do Dr. Tulp" (1632).
É o
despertar de um povo subterrâneo!
É a fauna cavernícola do crânio
— Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.
É a fauna cavernícola do crânio
— Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.
[trecho do poema "Monólogo de uma sombra", de Augusto dos Anjos]
Acabo de assistir na estação da Calçada ao desembarcar de cerca de oitenta feridos que chegam de Canudos e não posso, nestas notas ligeiras, esboçar um quadro indefinível com o qual se harmonizariam admiravelmente o gênio sombrio e o pincel funéreo de Rembrandt.
[trecho do Diário de uma expedição, de Euclides da Cunha, datado de 12 de agosto de 1897, Salvador]
Retratos do Século XIX
Com esta dou início a uma série de postagens com imagens representativas do século XIX e relacionadas com a produção e a vida literárias. O objetivo é articular literatura e cultura visual produzidas no Brasil, acumulando material pertinente para pesquisa que venho desenvolvendo há algum tempo, e que em breve será formalizada, com a consequente criação de um grupo de estudos.
O título da série de postagens é deliberadamente ambíguo, pretendendo evocar tanto imagens que representem aspectos culturais do Brasil oitocentista quanto retratos de figuras importantes para a criação literária do período. As postagens portanto não se limitarão aos retratos: estamparei nelas as mais variadas modalidades de imagens, de padrões arquitetônicos a paisagens, contemplando obviamente retratos propriamente ditos.
E é com um retrato de um grupo de literatos do segundo oitocentos brasileiro que abro a série. Trata-se de uma fotografia em que figuram escritores que participaram da fundação da Academia Brasileira de Letras, entre eles Arthur Azevedo (irmão de Aluísio), Olavo Bilac e Coelho Neto (infelizmente não consegui identificar os demais personagens). A fotografia registra uma espécie de paródia de um famoso quadro de Rembrandt (1606-1669) intitulado "Aula de Anatomia". É de Arthur Azevedo o corpo que está sendo "dissecado". Na parte inferior da fotografia há uma assinatura do poeta parnasiano Olavo Bilac.
Se alguém souber da identidade dos participantes da cena e a data do registro fotográfico, favor enviar carta a esta redação. Divirtam-se.
Se alguém souber da identidade dos participantes da cena e a data do registro fotográfico, favor enviar carta a esta redação. Divirtam-se.
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