“Eu
gostaria de falar mais longamente sobre a personalidade do poeta que
escreveu o Noturno
de Belo Horizonte [poema de Mário de Andrade] e
como só assim teria jeito pra dizer o que penso dele mais à
vontade, pra dizer o que me parece bom e o que me parece mau em sua
obra ― mau e sempre admirável, não há contradição aqui ―,
resisto à tentação. Limito-me a dizer o indispensável: que os
pontos fracos nas suas teorias estão quase todos onde elas coincidem
com as idéias de Tristão de Athayde. Essa falha tem uma compensação
nas estupendas tentativas para a nobilitação da fala brasileira.
Repito entretanto que a sua atual atitude intelectualista
me desagrada.
Nesse
ponto prefiro homens como Oswald de Andrade, que é um dos sujeitos
mais extraordinários do modernismo brasileiro; como Prudente de
Moraes Neto; Couto de Barros e Antônio de Alcântara Machado. Acho
que esses sobretudo representam o ponto de resistência necessário,
indispensável contra as ideologias do construtivismo. Esses e alguns
outros. Manuel Bandeira, por exemplo, que seria para mim o melhor
poeta brasileiro se não existisse Mário de Andrade. E Ribeiro Couto
que com Um
homem na multidão acaba
de publicar um dos três mais belos livros do modernismo brasileiro.
Os outros dois são Losango
cáqui e Pau-Brasil [livros da autoria de Mário e de Oswald de Andrade, respectivamente],”
[Trecho
de "O lado oposto e outros lados" (1926), Sérgio Buarque
de Holanda, em “O espírito e a
letra. Estudos de crítica literária
I, 1920-1947”. Organização, introdução e notas Antonio Arnoni
Prado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 224-228.]
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