27.11.14

Debussy para o fim de semestre

Ouvindo Debussy enquanto corrijo as avaliações típicas do final de semestre. Ouvindo o "Nocturne", de Debussy, e pensando no poema "Noturno", de Mário de Andrade. Ouvindo Debussy e divagando sobre o quanto de sua sonoridade nos sugere o fim do século XIX na cultura europeia, os anseios que antecipariam seu desfecho anos depois com o início da primeira grande guerra...
Ouçam vocês, e me digam.


23.11.14

A segunda geração romântica e o complexo de Chapeuzinho Vermelho





Pessimismo, "humor negro", perversidade, de mãos dadas com ternura, singeleza, doçura, nestes poetas é que os devemos procurar. Considerados em bloco, formam um conjunto em que se manifestam as características mais peculiares do espírito romântico. Inclusive a atração pela morte, a autodestruição dos que não se sentem ajustados ao mundo. Todos eles sentiram de modo profundo a vocação da poesia; vocação exigente, que incompatibilizava com as carreiras abertas pela sociedade do Império e nas quais se acomodaram eficazmente, na geração anterior, [Gonçalves de] Magalhães, Porto Alegre, [Joaquim] Norberto, o próprio Gonçalves Dias: advocacia, magistério, comércio, clero, armas, agricultura, burocracia. Por isso Junqueira Freire falhou como frade, Casimiro [de Abreu] como caixeiro, Laurindo [Rabelo] como médico, [Fagundes] Varela como tudo. [...] Por isso, o melhor estudante da Academia de São Paulo, Álvares de Azevedo, morreu antes de obter o canudo de bacharel. Todos eles escolhem as veredas mais perigosas, como quem experimenta com o próprio ser; um verdadeiro complexo de Chapeuzinho Vermelho, que leva a tomar o pior caminho para cair na boca do lobo, com um arrepio fascinado de masoquismo. [...]

(Candido, Antonio. Formação da literatura brasileira. Volume 2, pp. 134-5)


18.11.14

Iracema da América, Alencar e Chico Buarque

Ouçam e se deliciem com "Iracema voou", música em que Chico Buarque dialoga poeticamente com a criação de José de Alencar. Reparem a sugestiva condição desta nova Ireacema, não mais uma "virgem dos lábios de mel", e que vez por outra liga a cobrar para o eu lírico da canção, identificando-se ao telefone como "Iracema da América". Perfeito! Acessem através do link abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=6O-sJPa1gvQ


16.11.14

Castro Alves na Brasiliana




Vale a pena folhear as páginas dos títulos do condoreiro Castro Alves (1847-1871), reveladoras todas elas do talento e da "inspiração original" (nas palavras de José de Alencar). É especialmente revelador folhear o volume do "drama histórico brasileiro" de Castro Alves, Gonzaga, ou A Revolução de Minas (1875), que nas suas páginas iniciais reproduz cartas de José de Alencar e de Machado de Assis sobre o drama e seu jovem autor. Boa leitura!



http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?fq=dc.contributor.author:%22Alves,+Castro,+1847-1871%22

15.11.14

"Canção do Exílio"

O programa Tudo que é sólido pode derreter, produzido pela TV Cultura, comenta textos fundamentais da literatura através de narrativas inteligentes e descontraídas.
Este episódio tematiza o famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio".


12.11.14

"Entre cantos e chibatas"

Interessantíssimos os comentários de Lilia Moritz Schwarcz sobre fotos do século XIX que retratam aspectos da escravidão no Brasil. Instigante para pensarmos em que medida a literatura no Brasil se defrontou com tensões fundamentais decorrentes do sistema escravocrata entre nós. Segue a primeira parte, dos 4 disponíveis no youtube.


11.11.14

Obras completas de Casimiro de Abreu etc.


http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.contributor.author%3AAbreu%2C\+Casimiro\+de%2C\+1839\-1860

O endereço acima é o de uma das páginas do site da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (http://www.bbm.usp.br/). Nela estão relacionados os títulos das edições do poeta romântico Casimiro de Abreu, todos disponíveis em versão digitalizada, o que nos faz pensar na recepção da poesia brasileira à época no Brasil e fora dele. Casimiro, por qualidades que foram apontadas por Drummond em postagem anterior, foi poeta certamente difundido entre leitores os mais diversos, e ficamos mesmo imaginando que um poeta como Patativa do Assaré terá se deleitado com versos como estes.



[...]

Há que tempos! Bem me lembro...
Foi num dia de novembro:
Deixava a terra natal;
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.

Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
Pra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada
Esta rosa foi-me dada
Ao som d'um beijo primeiro.

Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
N'outros climas, n'outras plagas;
Mas tinha orações ferventes
D'uns lábios inda inocentes
Em quanto cortasse as vagas.

E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios!

[...]

(Abreu, Casimiro de. "Rosa murcha". In: _____.  As Primaveras. Rio de Janeiro: Typ. de Paula Brito, 1859)



O encanto pacífico de Casimiro de Abreu

São reveladoras as palavras de Carlos Drummond de Andrade sobre a poesia de Casimiro de Abreu, no livro Confissões de Minas (1944). A primeira parte das confissões de Drummond, aliás, intitula-se "Três poetas românticos", os quais são tratados nos seguintes ensaios: "Fagundes Varela, solitário imperfeito", "No jardim público de Casimiro" e "O sorriso de Gonçalves Dias". Destaco do segundo dois pequenos trechos, que desvela aspectos importantes da poesia de Casimiro.

"O encanto de Casimiro de Abreu está na tocante vulgaridade. Em sua poesia tudo é comum a todos. Nenhum sentimento nele se diferencia dos sentimentos gerais, que visitam qualquer espécie de homem, de qualquer classe, em qualquer país. Casimiro dirige-se igualmente a todos, e por isso mesmo é restrita a matéria de sua poesia: abrange somente aquela região em que não operam as distinções filosóficas, os credos políticos, a tumultuosa torrente da vida social." (p.29)

O trecho acima são as primeiras palavras do ensaio de Drummond. As que seguem foram retiradas de trecho mais avançado, em que estabelece a relação com dois outros importantes poetas do romantismo brasileiro, Álvares de Azevedo e Castro Alves.


"Casimiro guardou, pois, a inocência entre dois demônios poéticos. Antes dele, já Álvares de Azevedo zombara de todas as metafísicas e da própria poesia, recomendando em verso que cortassem uma tripa de seu cadáver para a feitura de uma lira que cantasse os amores da vida. Pouco depois, Castro Alves, ao mesmo tempo em que renovava o conteúdo dos velhos temas amorosos, agredia o leitor com a insolência de novos assuntos: a conspiração de Tiradentes, o tráfico de escravos, a batalha política. O frágil Casimiro esgueirou-se na tempestade, à procura de abrigo para a sua sensibilidade de contornos tão limitados. [...]" (pp. 30-1)

10.11.14

Ambientação do Romantismo Brasileiro

Mais um vídeo para nosso estudo do Romantismo no Brasil, relacionando aspectos culturais, sociológicos, religiosos e artísticos relevantes. Trata-se de mais um episódio de Histórias do Brasil, produzido pela TV Brasil. "O Sangrador e o Doutor, Rio de Janeiro, 1820" é o título do episódio, e revela um pouco do que o movimento romântico no Brasil tentaria a todo custo depurar.


7.11.14


"Não tem pátria um povo que não canta em sua língua." Esse era o lema do compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920). Ele representa um estágio pouco mais avançado em relação à primeira geração de músicos e artistas que tentaram reproduzir no Brasil "o efeito romântico europeu", como considera Ricardo Kanji, músico e apresentador da série "História da música brasileira", riquíssimo programa em dez episódios. Neste, o penúltimo deles, intitulado "Romantismo: o Brasil para poucos", encontramos elementos que facilitam a compreensão do desenvolvimento do Romantismo nas letras brasileiras, com a articulação de mitos de fundação da nacionalidade brasileira, por "uma elite que não sabia como se fazer autêntica", como diz o apresentador do programa. Ouçam para crer, através do link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=A3AG-xyIlmA





5.11.14

"I-Juca Pirama": reverberações atuais da poesia de Gonçalves Dias

Interessante animação baseada no poema "I-Juca Pirama", de Gonçalves Dias, "o primeiro grande poeta romântico do Brasil", nas palavras de Manuel Bandeira. Interessante pelas imagens que ilustram os versos do poeta maranhense e também pela divagação histórica acerca da imagem do indígena entre nós, do momento mítico do romantismo aos nossos dias.


1.11.14

Esclarecimentos sobre a "Epístola a Termindo Sipílio", de Silva Alvarenga

Mais uma dica de estudo sobre a poesia de Silva Alvarenga, com comentários acerca da "Epístola a Termindo Sipílio" e a estética arcádica. Vale a pena consultar a tese de Gustavo Henrique Tuna (USP, 2009), verificando especificamente o trecho que vai da página 50 a 55, em que o referido poema é comentado. O link para o arquivo pdf da tese é o seguinte: 
www.teses.usp.br/teses/.../8/.../GUSTAVO_HENRIQUE_TUNA.pdf

Um pouco mais sobre a poesia de Silva Alvarenga




            [...]
            Já os primeiros textos do autor [Silva Alvarenga] se dedicam justamente à elaboração do discurso didático sobre o fazer poético. As pesquisas de Francisco Topa revelaram que o primeiro texto impresso com o nome de Alcindo Palmireno, quando o autor ainda era estudante da Universidade de Coimbra, foi a "Epístola a Termindo Sipílio", em 1772. Se o poema já era bastante conhecido da crítica, a nova posição que ele ocupa no conjunto da obra do poeta reforça a importância da sua teorização de caráter neoclássico.
            A "Epístola" faz o elogio ao O Uraguai de Basílio da Gama, que não era o que se poderia chamar de uma "unanimidade" no ambiente português, e aproveita a ocasião para tecer comentários sobre determinadas práticas e figuras da vida intelectual da metrópole, numa clara tomada de partido estético. A série de preceitos e críticas que se seguem ao elogio a O Uraguai reforça a posição adotada pelo novo autor diante dos hábitos culturais e literários em que está inserido: defesa do equilíbrio ("Teu Pégaso não voa furioso..., mas ... conhece a mão e o freio"), valorização dos clássicos ("Ou Boileau torne a empunhar contra vós a espada"), adequação aos modelos ("Usarás Catulo na morte de quem amas/ D'alambicadas frases e agudos epigramas?"), segurança dada pelas práticas tradicionais (...), estudo constante ("Quem sobe mal seguro tem gosto de cair"), necessidade da crítica (...).
            [...] Toda esta preocupação teórica de Silva Alvarenga pode se justificar porque, inserida no conjunto de valores neoclássicos, a poesia não é entendida por ele (assim como por seus contemporâneos) como mero divertimento, mas como atividade que tem no horizonte a formação moral e intelectual do cidadão, já que é ela quem dá exemplo das belas ações, inclusive origem às outras disciplinas. [...]

(Morato, Fernando. "Introdução". In: Alvarenga, Manuel Inácio da Silva. Obras Poéticas.
São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp. XLIII-XLIV)


ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A POESIA DE SILVA ALVARENGA




            A obra de Silva Alvarenga foi toda escrita na segunda metade do século XVIII, tanto em Portugal quanto no Brasil, e se situa estética e ideologicamente no Neoclassicismo de feição arcádica.
            De maneira geral, o Neoclassicismo se empenhou num esforço para "restaurar o bom gosto perdido" após anos de influência dos modelos poéticos barrocos, muitas vezes identificados com a Espanha e seu grande poeta, Gongora (Silva Alvarenga chama-o de "sombrio espanhol", autor de "góticos enigmas"). Já desde o início do século XVIII havia mostras de desgosto com os "excessos" da poesia de caráter seiscentista, e a reação vai ganhando mais espaço e corpo com a publicação de O verdadeiro método de estudar, de Luís Antônio Verney (1746-47), com a fundação da Arcádia Lusitana (1756) e com a reforma da Universidade de Coimbra promovida pelo Marquês de Pombal (1772). À época em que Silva Alvarenga começa a escrever, está plenamente configurada a proposta neoclássica: retomada dos modelos clássicos, antigos e quinhentistas, e crítica constante da poesia, que se identifica com a expressão racional do pensamento. "Rien n'est beau que le vrai; le vrai seule est amaible", escreveu Boileau, cuja Arte Poética é modelo para vários autores da época.
            [...]

(Morato, Fernando. "Introdução". In: Alvarenga, Manuel Inácio da Silva. Obras Poéticas.
São Paulo: Martins Fontes, 2005, pp. XXXII-XXXIII)