31.7.14

Escravos no Engenho: Bahia, 1574




Segundo filme da série Histórias do Brasil, da TVBrasil.

30.7.14

Cinema (do mundo) novo: raízes do nacionalidade

 



Eis Como era gostoso meu francês (1971), filme de Nelson Pereira dos Santos, que à maneira modernista retoma os relatos dos cronistas e missionários que estiveram em terras sul-americanas no século XVI na construção de sua narrativa fílmica. Vale pela representação desabusada do encontro entre invasores europeus e nativos como também pela articulação inteligente das narrativas e testemunhos quinhentistas.


29.7.14

Deus e o diabo no seiscentos brasileiro: uma lenda?

Waly Salomão encarnando O boca do inferno.
Araripe Júnior foi um leitor perspicaz de Gregório de Matos, utilizando seu instrumental "zolesco", como poderíamos dizer utilizando uma expressão da época. "Zolesco" referia-se à perspectiva naturalista de Émile Zola (1840-1902), criador do naturalismo na França (ou seja, perspectiva cientificista e determinista). Alfredo Bosi sugere que Araripe Júnior utilizara inclusive uma fórmula na interpretação da literatura brasileira: "Zola mais obnubilação brasílica = estilo tropical".

Mas o caso agora é de seu comentário sobre o que ele chama de lenda, que se resume no seguinte:

"O padre-mestre Antônio Vieira, referindo-se a Gregório de Matos, disse que 'maior fruto produziam as sátiras do poeta que as missões dele jesuíta'. E houve quem assegurasse que O boca do inferno com os seus versos conseguira moderar o desregramento dos costumes e impedir que se incrementasse o desgoverno da colônia."

Na sequência desse trecho, Araripe completa: "Aí tem uma lenda como qualquer outra". Segundo o crítico cearense, "Vieira não podia acreditar que a sátira fosse capaz de melhorar a alma de ninguém". E completa com a seguinte definição, curta e grossa, da personalidade de Gregório de Matos: Um notabilíssimo canalha, eis o que ele era".

Viva O boca do inferno e suas lendas!

28.7.14

Histórias do Brasil 1: Cabo Frio, 1530





"Uma coisa importante de se observar é que os europeus foram extremamente bem recebidos ao chegarem ao que viria a ser o Brasil. Os europeus foram muito bem tratados, desde a carta do Caminha se pode ver isso. Foi à medida em que eles foram revelando a sua verdadeira face, isto é, de uma civilização movida pela cobiça, pela violência e pelo desprezo pelo outro, eles começaram a ser tratados digamos como mereciam, e começaram a entrar na categoria de inimigos. E aí começaram a ser também capturados, e eventualmente executados e devorados cerimonialmente. Mas nunca foram os inimigos prediletos dos índios, os inimigos prediletos dos índios eram outros índios. Os europeus estavam ou muito ou muito fora do sistema digamos da humanidade verdadeira definida pelos índios." (Eduardo Viveiros de Castro)


Essa é uma das observações de Eduardo Viveiros de Castro, que pontua os intervalos de uma narrativa ficcional montada a partir de dados históricos de nossa formação. O filme é informativo e bem fundamentado. Vale cruzarmos a caracterização do personagem português (Pero Dias, como ele mesmo se apresenta) que aparece na pequena narrativa do filme e as seguintes observações de Araripe Júnior sobre o fenômeno da obnubilação:



"Em outra parte eu já expliquei a chave para a compreensão da originalidade da literatura brasileira, pelo menos nos dois primeiros séculos, estava na análise do fenômeno aqui operado e a que conferi o nome de obnubilação. Consiste esse fenômeno na transformação por que passavam  os colonos atravessando o oceano Atlântico, e na sua posterior adaptação ao meio físico e ao ambiente primitivo. Basta percorrer as páginas dos cronistas para reconhecer esta verdade. Portugueses, franceses, espanhóis, apenas saltavam no Brasil e internavam-se, perdendo de vista as suas pinaças e caravelas, esqueciam as origens respectivas. Dominados pela rudez do meio, entontecidos pela natureza tropical, abraçados com a terra, todos eles se transformavam quase em selvagens; e se um núcleo forte se colonos, renovado para contínuas viagens, não os sustinha na luta, raro era que não acabassem pintando o corpo de jenipapo e urucu e adotando ideias e até as brutalidade dos indígenas."
(Araripe Júnior)