31.1.13

Na Catedral de Alphonsus de Guimaraens




A Catedral

Entre brumas ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,

Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"


(In: Guimaraens, Alphonsus de. Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, 1923)


28.1.13

Graciliano Ramos fala sobre São Bernardo


O S. Bernardo está pronto, mas foi escrito quase todo em português, como você viu. Agora está sendo traduzido para brasileiro, um brasileiro encrencado, muito diferente desse que aparece nos livros da gente da cidade, um brasileiro de matuto, com uma quantidade enorme de expressões inéditas, belezas que eu mesmo nem suspeitava que existissem. Além do que eu conhecia, andei a procurar muitas locuções que vou passando para o papel. O velho Sebastião, Otávio, Chico e José Leite me servem de dicionários. O resultado é que a coisa tem períodos absolutamente incompreensíveis para a gente letrada do asfalto e dos cafés. Sendo publicada, servirá muito para a formação, ou antes para a fixação, da língua nacional. Quem sabe se daqui a trezentos anos não serei um clássico?

(Ramos, Graciliano. "Carta a Heloísa Ramos". In: ______. Rio de Janeiro: Record, 1981; p. 130-1)


24.1.13

Por que Flores do Mal?







Poetas ilutres tinham dividido há muito tempo as províncias floridas do domínio poético. Pareceu-me prazeroso, e tanto mais agradável, porque a tarefa era mais difícil, extrair a beleza do mal.
(Baudelaire, Charles. As flores do mal, Paris, 1857)

23.1.13

Mallarmé por ele mesmo: utopia do símbolo



       [...]
       Não era, você sabe, para um poeta viver de sua arte, mesmo rebaixando-a em vários níveis, quando ingressei na vida; e nunca o deplorei. Tendo estudado inglês simplesmente para melhor ler [Edgar Allan] Poe, fui aos vinte anos para a Inglaterra, a fim de fugir, principalmente; mas também para falar a língua e ensiná-la em algum canto, tranquilo e sem outro ganha-pão forçado: eu casara e isto era urgente.
      Hoje, vão-se mais de vinte anos e apesar da perda de tantas horas, acho, tristemente, que fiz bem. É que, afora os trechos de prosa e os versos de minha juventude e o resto, que lhes fazia eco, publicado em quase toda parte, cada vez que eram lançados os primeiros números de uma Revista Literária, sempre sonhei e tentei outra coisa, com uma paciência de alquimista, pronto a sacrificar-lhe toda a vaidade e satisfação, como outrora queimava-se toda a mobília e as vigas do telhado para alimentar o forno da Grande Obra. O quê? é difícil dizer: um livro, simplesmente, em vários tomos, um livro que seja um livro, arquitetônico e premeditado, e não uma coletânea das inspirações casuais por maravilhosas que fossem... Irei mais longe e direi: o Livro, convencido de que no fundo há um só, tentado à revelia por quem que tenha escrito, mesmo os Gênios. A explicação órfica da Terra, que é o único dever do poeta e o jogo literário por excelência: pois o próprio ritmo do livro, então impessoal e vivo, até em sua paginação, se justapõe às equações deste sonho, ou Ode.
     Eis, caro amigo, a confissão de meu vício, desnudado, que mil vezes enjeitei, com o espírito machucado ou cansado, mas ele me possui e talvez eu consiga; não fazer esta obra em seu conjunto (seria preciso ser não sei quem para tanto!) mas mostrar um fragmento executado, fazer cintilar a partir de um ponto sua autenticidade gloriosa, indicando todo o resto para o qual uma vida não basta. Provar pelas proporções feitas que este livro existe, e que conheci o que não poderei ter cumprido.
       [...]
(Mallarmé, Stéphane. Prosas de Mallarmé. Tradução Dorothée de Bruchard. Porto Alegre: Paraula, 1995, pg. 13-15; 
ilustra esta postagem o retrado de Mallarmé pintado em 1876 por Edouard Manet)

21.1.13

Trecho de Roger Bastide


"[...] Cada escola literária traz consigo o seu bricabraque: o Romantismo, seus castelos feudais, suas igrejas góticas, seus amores tuberculosos, suas folhas mortas; o Simbolismo, seus ciprestes, e seus cisnes, seus violinos chorosos e suas águas paradas. Na medida em que pertence a uma escola destas, o escritor toma-lhe imagens que, portanto, não são profundas. [...]"
(Bastide, Roger. Estudos afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1973, pg. 6)

20.1.13

Atualidade do Simbolismo? Cruz e Sousa

Paul Valéry, em "Existência do Simbolismo", apresentava aquilo que caracterizava os simbolistas do último quartel do século XIX (a partir de 1886): "desdenham a conquista do grande público" (Valéry, 1999, p. 66). Desde então, percebe-se claramente o aristocratismo da atitude decadentista (ou simbolista), que não deixou de influenciar os poetas do Simbolismo no Brasil. Ao final do artigo referido, Paul Valéry aponta para o maior distanciamento, sempre crescente, entre a atitude aristocrática dos simbolistas e o espírito da época atual (no caso, o ano de 1939, em que foi publicado originalmente o artigo). Suas palavras são um tanto desoladoras, pois parecem válidas para entendermos uma tendência que avança ainda nos nossos dias, neste nosso pobre século XXI. Eis as palavras finais do artigo de Valéry:

     "As condições de desenvolvimento dos espíritos em profundidade, em sutileza, em perfeição, em poder requintado, estão dissipadas. Tudo se declara contra as possibilidades de vida espiritual independente. As lamúrias dos poetas de sessenta anos atrás nos parecem pura retórica perto dos lamentos que a época atual extrairia dos seres líricos, se eles não sentissem a inutilidade de gemer no meio do alarido universal, do barulho tumultuado das máquinas e das armas, dos gritos da multidão e das arengas ingênuas e formidáveis de seus domadores e condutores.
     Terminarei, então, observando que o 'Simbolismo' é, de hoje em diante, o símbolo nominal do estado de espírito e das coisas do espírito mais oposto àquele que reina, e mesmo que governa, atualmente.
     Nunca a Torre de marfim pareceu tão alta."
(Valéry, Paul. "Existência do Simbolismo", p. 76-77)

Além da provocação que podemos encontrar por trás das palavras melancólicas de Paul Valéry, elas nos remetem também à "vontade de aristocratização" que marcou a produção artística de Cruz e Sousa, a mais alta expressão do Simbolismo no Brasil. Sobre ele escreveu Roger Bastide as seguintes palavras:

"Aqui igualmente o Simbolismo lhe permitia, melhor ainda do que no Parnaso, essa promessa de aristocratização. A torre de marfim, o poema obscuro, compreensível a uma pequena minoria, a cultura doentia da inteligência e da sensibilidade, o horror à vulgaridade, uma arte de reticências e de sutilezas, eis o que oferece o maior poeta afro-brasileiro para provar a sua aristocracia. Tornar-se-á também o tipo mesmo do esteta, aquele que, como ele disse, se recusa às sensações elementares, físicas, terrestres, para sentir unicamente com seus nervos, com suas fibras, as emoções mais etéreas, aquelas que escapam ao comum dos mortais. Assim a sociedade deseja rebaixá-lo, mas ela nada pode sobre o seu espírito de artista. De chofre, coloca-se no primeiro plano, na elite da poesia pura [...]."
(Bastide, Roger. "A nostalgia do branco", p. 66-67)

19.1.13

O Cacto e as Ruínas

Segue link para acessar arquivo de O cacto e as ruínas, belíssimo livro de Davi Arrigucci Jr. em que se desenvolvem estudos que pretendem compreender "a poesia entre as outras artes", como nos indica o subtítulo. O livro divide-se em duas partes, a primeira dedicada a "O cacto", poema de Manuel Bandeira, e "As ruínas de Selinunte", de Murilo Mendes.
Para uma compreensão panorâmica da produção poética de Manuel Bandeira e para o contato mais claro com o poema "O cacto", em trechos relativamente pouco extensos, vale a leitura de algumas seções da primeira parte, aquela dedicada ao autor de Libertinagem (1930); os trechos são os seguintes: primeira seção do primeiro capítulo, intitulada "A força calma" (pg. 11 a 15), e a quarta seção do segundo capítulo, intitulada "Análise" (pg. 41 a 44).
Acesse o arquivo pdf através do link abaixo:
http://www.4shared.com/office/A3CGOLhP/arrigucci_jr_david_-_o_cacto_e.html




17.1.13

AP2 de Literatura Brasileira 3




Universidade Federal do Ceará
Centro de HumanidadesCurso de LetrasDepartamento de Literatura
Literatura Brasileira IIIProfessor: Marcelo Magalhães2ª AP



1.      Leia e analise o texto abaixo, procurando identificar nele traços característicos da poética de seu autor e também caracteres específicos de Pauliceia Desvairada (1922). As tendências da poesia moderna apresentados por Mário de Andrade no “Prefácio Interessantíssimo” e n’A Escrava que não é Isaura (1924) devem ser relacionadas em sua análise.

Noturno

Luzes do Cambuci pelas noites de crime. . .
Calor! ... E as nuvens baixas muito grossas,
feitas de corpos de mariposas,
rumorejando na epiderme das árvores. . .

Gingam os bondes como um fogo de artifício,
sapateando nos trilhos,
cuspindo um orifício na treva cor de cal. . .

Num perfume de heliotrópios e de poças
gira uma flor-do-mal. . . Veio do Turquestão;
e traz olheiras que escurecem almas. . .
Fundiu esterlinas entre as unhas roxas
nos oscilantes de Ribeirão Preto. . .

— Batat’assat’ô furnn! . . .

Luzes do Cambuci pelas noites de crime! . . .
Calor. . . E as nuvens baixas muito grossas,
feitas de corpos de mariposas,
rumorejando na epiderme das árvores. . .

Um mulato cor de oiro,
com uma cabeleira feita de alianças polidas. . .
Violão! "Quando eu morrer. . .” Um cheiro
[pesado de baunilhas
oscila, tomba e rola no chão. . .
Ondula no ar a nostalgia das Baías. . .

E os bondes passam como um fogo de artifício,
sapateando nos trilhos,
ferindo um orifício na treva cor de cal. . .

— Batat’assat’ô furnn! . . .

[...]
               
Balcões na cautela latejante, onde florem
[Iracemas
para os encontros dos guerreiros brancos. . .
[Brancos?
E que os cães latam nos jardins!
Ninguém, ninguém, ninguém se importa!
 Todos embarcam na Alameda dos Beijos da
[Aventura!
Mas eu. . .  Estas minhas grades em girândolas
[de jasmins,
enquanto as travessas do Cambuci nos livres
da liberdade dos lábios entreabertos! . . .

Arlequinal! Arlequinal!
As nuvens baixas muito grossas,
feitas de corpos de mariposas,
rumorejando na epiderme das árvores. . .
Mas sobre estas minhas grades em girândolas
[de jasmins,
o estelário delira em carnagens de luz,
e meu céu é 'todo um rojão de lágrimas!. . .

E os bondes passam como um fogo de artifício,
sapateando nos trilhos,
jorrando um orifício na treva cor de cal. . .

— Batat’assat’ô furnn! . . .


(Mário de Andrade, Pauliceia Desvairada, 1922)


2.      A partir da leitura do trecho abaixo, relacione aspectos do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” (1924) ao texto da questão anterior, apontando reflexos e contrastes entre as obras de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade.

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá.
[...]
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
[...]
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
[...]
A poesia pau-brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. [...]
[...]
Apenas brasileiros de nossa época. [...]

3.      Gilda de Melo e Antonio Candido afirmam que um dos modos de ler os poemas de Manuel Bandeira “seria pensá-los com referência aos dois polos da Arte, isto é, o que adere estritamente ao real e o que procura subvertê-lo por meio de uma deformação voluntária”. A partir desta afirmação, e também de elementos do “Manifesto da Poesia Pau-Brasil”, analise o poema que segue.

O cacto

Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
[privou a cidade de iluminação e energia:

– Era belo, áspero, intratável.
(Manuel Bandeira, 1925. Publicado em Libertinagem, de 1930)

Glossário
Laocoonte: sacerdote de Apolo, que foi morto por serpentes marinhas junto com os filhos em dramático episódio da Guerra de Tróia. Conta a lenda que as serpentes foram enviadas por Poseidon, deus que favorecia aos gregos. “Laocoonte e seus filhos”, escultura em mármore do século I a.C., é exemplar na representação de momentos patéticos da dor humana.
Ugolino: o Conde Ugolino foi trancado com filhos e netos em uma torre de Pisa, até morrerem de fome. Figura na Divina comédia (Inferno, XXXIII), e constitui também tema patético da estatuária ocidental.


Portal www.machadodeassis.net

Neste site, onde se pretende disponibilizar todos os romances e contos de Machado de Assis com links para as referências neles identificadas, o usuário encontrará, por enquanto, a edição de Ressurreição , A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires e Contos fluminenses.
Nessa edição, preparada com o cuidado necessário para torná-la fidedigna, o leitor poderá não apenas desfrutar o romance ou o conto em si, mas também achar, nas notas em forma de links, explicações sobre todas as citações e alusões do texto: tanto as de natureza simbólica (autores, obras de arte, personagens, fatos históricos referidos por Machado de Assis), como as menções a lugares e instituições não-ficcionais (bairros e ruas da cidade do Rio de Janeiro, lojas, teatros, cafés que as personagens machadianas frequentam).

Os demais contos de Machado de Assis estarão disponíveis, ao longo dos próximos meses, à medida que a equipe responsável for concluindo o trabalho de edição dos textos e preparação dos links.

Este site é parte de um projeto de pesquisa desenvolvido na Fundação Casa de Rui Barbosa, com o apoio do CNPq e da FAPERJ.

Marta de Senna

[In: http://machadodeassis.net/hiperTx_romances/index.asp]

15.1.13

Entre o Parnaso e o Símbolo: artigos interessantes

Abaixo os endereços de dois bons artigos, ambos relacionados princiapalmente com o Simbolismo, mas também com atitudes ou personalidades parnasianas.Confiram:

http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_pgs/Eixo%20e%20a%20Roda%2014/06-Thiago-Saltarelli.pdf

periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ct/article/download/13074/7572


13.1.13

Manuel Bandeira: lirismo e forma pessoal


     "Muitas das complicações técnicas em que [Manuel Bandeira] se compraz não são decididas, na obra deste engenheiro malogrado, pelo apego ao espírito de geometria, e sim, talvez, pelo pudor das próprias emoções, espécie de inteligência da sensibilidade. De onde certa dureza de timbre bem característica e, por vezes, certa rispidez deliberada, equivalente, de algum modo, à concepção estética representada na figura daquele cacto 'belo, áspero, intratável', que um dia caiu atravessado na rua, quebrando cabos elétricos e interrompendo por vinte e quatro horas a vida da cidade."



(Holanda, Sérgio Buarque de. "Trajetória de uma poesia". In: Bandeira, Manuel. Poesia completa e prosa.
Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1983, p. 23)

12.1.13

Lirismo e técnica no "Prefácio interessantíssimo"


     "O ponto mais polêmico do 'Prefácio interessantíssimo' (ontem como hoje) está aqui: na discussão da natureza psicológica do lirismo. A poética parnasiana levara a um verdadeiro fetiche da técnica; métrica, rima, chave de ouro, cesura obrigatória, todos os pequenos truques da versificação eram confundidos e idenntificados com a poesia. Sucede que tal poética tinha seus quadros muito estreitos, incapazes de abranger aspectos importantes da poesia: a ênfase exagerada no papel da técnica resultava na diminuição igualmente exagerada no valor da inspiração.
     Mário se insurge contra esse desequilíbrio – e na sua tentativa de libertar-se da prisão parnasiana resvala levemente para o lado oposto, enfatizando o lirismo em detrimento da técnica [...]."

(Lafetá, João Luiz. "As poéticas da juventude". In: _____. 1930: a crítica e o modernismo.
São Paulo: Duas Cidades, 2000, p. 161)