25.6.12

Notícia sobre a greve dos docentes da UFC

Calendário de atividades da greve – 25 a 29 de junho

O Comando de Greve da UFC e da Unilab definiu, na última sexta-feira (22), o calendário de atividades que serão realizadas na semana de 25 a 29 de junho. Confira a seguir:


Segunda-feira (25)


9h – Debate sobre a reestruturação da carreira - Unilab, com os professores Maria do Céu e Marcelino Pequeno;
10h – História e memória das greves das IFES, com o Prof. Marcelo Badaró – UFF - Auditório Rachel de Queiróz (Psicologia/ CH Área 2);
17h – Debate O PNE e o Ensino Superior - Auditório da Reitoria;

Terça-feira (26)

9h – Exibição do filme ABC da Greve - Sala de Audiovisual da Pós-Graduação em História;

15h – Seminário sobre Reestruturação da carreira – Auditório da ADUFC-Sindicato, com os professores Marcelino Pequeno e Roberto Cunha;

Quarta-feira (27)

9h – Exibição do filme Dzi Croquettes - Sala de Audiovisual da Pós-Graduação em História;

15h – Seminário Relações de poder e condições de  trabalho nas universidades federais - Auditório da ADUFC-Sindicato, com os professores Leonardo Damasceno Sá e Sylvio Gadelha;

17h – Reunião do Comando de Greve (após o seminário);

Quinta-feira (28)

15h – Seminário – Universidade pública, gratuita e expansão das universidades - Auditório da ADUFC-Sindicato, com os professores Fátima Vasconcelos e Tiago Coutinho;

Sexta-feira (29)

20h – Forró da Greve – São Pedro, salve a greve! – Espaço Cultural da ADUFC-Sindicato;

Obs: Poderá haver reunião do Comando de Greve em caráter extraordinário na próxima semana, dependendo das negociações com o governo.


[FONTE: http://www.adufc.org.br/]

19.6.12

Notícias da Greve na UFC

CARTA ABERTA À COMUNIDADE UNIVERSITÁRIA
    O Comando de Greve dos docentes das universidades federais do Estado do Ceará vem a público expressar repúdio ao ato da Pró-Reitoria de Graduação da UFC que, no dia 12 de junho, enviou mensagem aos coordenadores de cursos e chefes de departamento, indicando o lançamento de notas no SIGAA, relativas ao semestre 2012.1, em um claro boicote à greve dos docentes, iniciada no mesmo dia.
    O CG conclama os professores a reforçar a greve, suspendendo as atividades docentes, inclusive a digitação das notas.
    Informa, ainda, que estará presente na reunião do CONSUNI/UFC no próximo dia 22, ocasião em que discutirá o calendário acadêmico.

                                                 Fortaleza, 19 de junho de 2012


Comando de Greve / ADUFC-Sindicato
 
[FONTE: http://www.adufc.org.br/]

Sobre a greve na UFC

NOTA DE REPÚDIO
     Mais uma vez o Governo Federal deu mostra de descaso em relação à educação superior e adiou a reunião de negociação com as entidades representativas dos docentes, prevista para este dia 19 de junho.
     A negociação, que já havia sido unilateralmente adiada pelo governo em 28 de maio, novamente foi interrompida, desconsiderando que esse processo já se arrasta há dois anos e que a maioria das universidades está em greve.
     O Comando de Greve dos docentes das universidades federais do Estado do Ceará repudia essa atitude do governo e conclama a categoria a fortalecer a greve.
     A greve é forte! A luta continua!

                                                 Fortaleza, 19 de junho de 2012

Comando de Greve / ADUFC-Sindicato
[FONTE: http://www.adufc.org.br/]

18.6.12

Teses sobre o conto



Teses sobre o conto – Ricardo Piglia

1. Num de seus cadernos de notas Tchecov registrou este episódio: "Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida". A forma clássica do conto está condensada no núcleo dessa narração futura e não escrita. Contra o previsível e convencional (jogar-perder-suicidar-se) a intriga se estabelece como um paradoxo. A anedota tende a desvincular a história do jogo e a história do suicídio. Essa excisão é a chave para definir o caráter duplo da forma do conto.
2. Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias.
O conto clássico (Poe, Quiroga) narra em primeiro plano a história 1 (o relato do jogo) e constrói em segredo a história 2 (o relato do suicídio). A arte do contista consiste em saber cifrar a história 2 nos interstícios da história 1. Uma história visível esconde uma história secreta, narrada de um modo elíptico e fragmentário.O efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta aparece na superfície.
3. Cada uma das duas histórias é contada de maneira diferente. Trabalhar com duas histórias significa trabalhar com dois sistemas diversos de causalidade. Os mesmos acontecimentos entram simultaneamente em duas lógicas narrativas antagônicas. Os elementos essenciais de um conto têm dupla função e são utilizados de maneira diferente em cada uma das duas histórias.
Os pontos de cruzamento são a base da construção.
4. No início de "La Muerte y la Brújula", um lojista resolve publicar um livro. Esse livro está ali porque é imprescindível na armação da história secreta. Como fazer com que um gângster como Red Scharlach fique a par das complexas tradições judias e seja capaz de armar a Lönrot uma cilada mística e filosófica? Borges lhe consegue esse livro para que se instrua. Ao mesmo tempo usa a história 1 para dissimular essa função: o livro parece estar ali por contiguidade com o assassinato de Yarmolinsky e responde a uma causalidade irônica. "Um desses lojistas que descobriram que qualquer homem se resigna a comprar qualquer livro publicou uma edição popular da "Historia Secreta de los Hasidim". O que é supérfluo numa história, é básico na outra. O livro do lojista é um exemplo (como o volume das "Mil e Uma Noites" em "El Sur"; como a cicatriz em "La Forma de la Espada") da matéria ambígua que faz funcionar a microscópica máquina narrativa que é um conto.
5. O conto é uma narrativa que encerra uma história secreta. Não se trata de um sentido oculto que depende da interpretação: o enigma não é senão uma história que se conta de modo enigmático. A estratégia da narrativa está posta a serviço dessa narrativa cifrada. Como contar uma história enquanto se está contando outra? Essa pergunta sintetiza os problemas técnicos do conto.
Segunda tese: a história secreta é a chave da forma do conto e suas variantes.
6. A versão moderna do conto que vem de Tchecov, Katherine Mansfield, Sherwood Anderson, o Joyce de "Dublinenses", abandona o final surpreendente e a estrutura fechada; trabalha a tensão entre as duas histórias sem nunca resolvê-las. A história secreta conta-se de um modo cada vez mais elusivo. O conto clássico à Poe contava uma história anunciando que havia outra; o conto moderno conta duas histórias como se fossem uma só.
A teoria do iceberg de Hemingway é a primeira síntese desse processo de transformação: o mais importante nunca se conta. A história secreta se constrói com o não dito, com o subentendido e a alusão.
7. "O Grande Rio dos Dois Corações", um dos textos fundamentais de Hemingway, cifra a tal ponto a história 2 (os efeitos da guerra em Nick Adams) que o conto parece a descrição trivial de uma excursão de pesca. Hemingway utiliza toda sua perícia na narração hermética da história secreta. Usa com tal maestria a arte da elipse que consegue com que se note a ausência da outra história.
O que Hemingway faria com o episódio de Tchecov? Narrar com detalhes precisos a partida e o ambiente onde se desenrola o jogo e técnica utilizada pelo jogador para apostar e o tipo de bebida que toma. Não dizer nunca que esse homem vai se suicidar, mas escrever o conto se o leitor já soubesse disso.
8. Kafka conta com clareza e simplicidade a história secreta e narra sigilosamente a história visível até transformá-la em algo enigmático e obscuro. Essa inversão funda o "kafkiano".
A história do suicídio no argumento de Tchecov seria narrada por Kafka em primeiro plano e com toda naturalidade. O terrível estaria centrado na partida, narrada de um modo elíptico e ameaçador.
9. Para Borges a história 1 é um gênero e a história 2 sempre a mesma. Para atenuar ou dissimular a monotonia essencial dessa história secreta, Borges recorre às variantes narrativas que os gêneros lhe oferecem. Todos os contos de Borges são construídos com esse procedimento.
A história visível, o jogo no caso de Tchecov, seria contada por Borges segundo os estereótipos (levemente parodiados) de uma tradição ou de um gênero. Uma partida num armazém, na planície entrerriana, contada por um velho soldado da cavalaria de Urquiza, amigo de Hilario Ascasubi. A narração do suicídio seria uma história construída com a duplicidade e a condensação da vida de um homem numa cena ou ato único que define seu destino.
10. A variante fundamental que Borges introduziu na história do conto consistiu em fazer da construção cifrada da história 2 o tema principal.
Borges narra as manobras de alguém que constrói perversamente uma trama secreta com os materiais de uma história visível. Em "La Muerte y la Brújula", a história 2 é uma construção deliberada de Scharlach. O mesmo ocorre com Acevedo Bandeira em "El Muerto"; com Nolan em "Tema del Traidor y del Héroe"; com Emma Zunz.
Borges (como Poe, como Kafka) sabia transformar em argumento os problemas da forma de narrar.
11. O conto se constrói para fazer aparecer artificialmente algo que estava oculto. Reproduz a busca sempre renovada de uma experiência única que nos permita ver, sob a superfície opaca da vida, uma verdade secreta. "A visão instantânea que nos faz descobrir o desconhecido, não numa longínqua terra incógnita, mas no próprio coração do imediato", dizia Rimbaud.
Essa iluminação profana se transformou na forma do conto.
(em O Laboratório do Escritor. Tradução de Josely Vianna Baptista)
[Fonte: http://revistamacondo.wordpress.com/2012/06/14/texto-teses-sobre-conto-ricardo-piglia/]

14.6.12

Trecho sobre as "Memórias Póstumas"

Como é sabido, as "Memórias Póstumas de Brás Cubas" são memórias de um intelectual irrealizado, que se permitiu filosofar postumamente sobre a vida e o destino humano, com experimentos e conceituações de arte, que, sem deixarem de trair os vícios originários, dilataram os moldes do romance adaptando-o às solicitações de um subjetivismo intencional. Naquele, o pensamento de Machado de Assis atingiu um clímax arriscado de inovações que fez constantemente periclitar a linha de naturalidade.


[Gomes, Eugênio. Aspectos do romance brasileiro. Salvador: Progresso, 1958, p. 85]

8.6.12

Machado de Assis em linha

Para quem se dedica ao estudo da obra de Machado de Assis, uma excelente publicação virtual é a revista Machado em linha (http://machadodeassis.net/revista/index.asp). Publicação conceituada no meio acadêmico, traz artigos e resenhas escritos por especialistas renomados. Fundamental para a atualização dos estudos machadianos. Confiram!

o que é um poeta parnasiano? (3)

A prosa de O Ateneu é um primor de sarcasmo. A crítica à sociedade da época é microscópica e insistente, abarcando os mais variados aspectos da cultura do final do século XIX. E a moda do Parnaso, com seus poetas principescos e oficiais, não poderia ficar de fora. Já no final do romance, em que o narrador conta os festejos de final de ano letivo, com a presença inclusive da Princesa Isabel, aparece o "grande Dr. Ícaro de Nascimento", designado pelo narrador como "o grande atrativo". "O poeta" é então peça fundamental na formalidade social daquele encontro, em que se inauguraria o busto em bronze de Aristarco, o diretor daquela instituição de ensino tão afamada, e que representa uma espécie de microcosmo da "boa sociedade" de então. Vejamos como Sérgio, o narrador, caracteriza "o poeta", moldado com elementos da poética parnasiana.



[...] Nada disso era o grande atrativo, nada conseguia altear-se para nós um palmo na perspectiva geral da multidão; o nosso grande cuidado era o poeta, “o poeta!” murmurava o colégio, uns à procura, outros indicando. Era aquele de pé, mão no quadril, vistosamente, no palanque do professorado, entornando para as duas bandas, sobre as pessoas mais próximas, uma profusão assombrosa de suíças.
Dentre as suíças, como um gorjeio do bosque, saía um belo nariz alexandrino de dois hemistíquios, artisticamente longo, disfarçando o cavalete da cesura, tal qual os da última moda no Parnaso. À raiz do poético apêndice brilhavam dois olhos vivíssimos, redondos, de coruja, como os de Minerva. Tão vivos ao fundo das órbitas cavas, que bem se percebia ali como deve brilhar o fundo na fisionomia da estrofe. O grande Dr. Ícaro de Nascimento! Vinha ao Ateneu exclusivamente para declamar uma poesia famosa, que havia algum tempo era o sucesso obrigado das festas escolares do Rio: O mestre. [...]

(Pompéia, Raul. O Ateneu. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005, p. 262;
 a ilustração é de Raul Pompéia)

4.6.12

Literatura Militante: Lima Barreto



O Brasil é mais complexo, na ordem social econômica, no seu próprio destino, do que Portugal.
A velha terra lusa tem um grande passado. Nós não temos nenhum; só temos futuro. E é dele que a nossa literatura deve tratar, da maneira literária. Nós nos precisamos ligar; precisamos nos compreender uns aos outros; precisamos dizer as qualidades que cada um de nós tem, para bem suportarmos o fardo da vida e dos nossos destinos. Em vez de estarmos aí a cantar cavalheiros de fidalguia suspeita e damas de uma aristocracia de armazém por atacado, porque moram em Botafogo ou Laranjeiras, devemos mostrar nas nossas obras que um negro, um índio, um português ou um italiano se podem entender e se podem amar, no interesse comum de todos nós.
A obra de arte, disse [Hippolyte] Taine, tem por fim dizer o que os simples fatos não dizem. Eles estão aí, à mão, para nós fazermos grandes obras de arte.
[...]
Hoje, quando as religiões estão mortas ou por morrer, o estímulo para elas é a arte. Sendo assim, eu como literato aprendiz que sou, cheio dessa concepção, venho para as letras disposto a reforçar esse sentimento com as minhas pobres e modestas obras.
O termo "militante" de que tenho usado e abusado, não foi pela primeira vez empregado por mim.
O Eça [de Queiroz], por quem não cesso de proclamar a minha admiração, empregou-o, creio que nas Prosas Bárbaras, quando comparou o espírito da literatura francesa com o da portuguesa.
Pode-se lê-lo lá e lá o encontrei. Ele mostrou que desde muito as letras francesas se ocuparam com o debate das questões da época, enquanto as portuguesas limitavam-se às preocupações da forma, dos casos sentimentais e amorosos e da idealização da natureza Aquelas eram – militantes, enquanto estas eram contemplativas e de paixão.
(Lima Barreto, “Literatura Militante”. In: _____. Impressões de leitura, p. 72-3).